Tréguas de Natal
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Facebook, 2014.12.25. Pe. João Vila Chã
Uma grande entidade comercial sediada na Inglaterra, neste ano centenário do início da Primeira Grande Guerra, decidiu fazer um vídeo promocional baseado numa histórica verídica, a da trégua espontânea que se gerou algures na frente de batalha na noite de Natal de 1914, faz hoje precisamente 100 anos. Nessa noite de Véspera de Natal, por volta das 20:30, as armas começaram a silenciar, cedendo a vez à nostalgia da Paz que habitava o coração dos jovens soldados, tanto de um lado como do outro. A guerra tenha começado em finais de Agosto e até essa altura, em apenas 4 meses de hostilidades, tinha já costado a vida a mais de um milhão de soldados. Do acontecimento, historicamente fundado e bem documentado, tinha ouvido falar pela primeira vez nos finais dos anos 80 do século passado, contada (penso que numa noite de Natal) por um velho Padre Alemão, que sabia bem mais detalhes do que eu era então capaz de assimilar. A trégua de Natal de 1914, espontânea e completamente não-planeada, foi um sucesso que durou apenas algumas horas, tendo sido rapidamente interrompida já na tarde do dia 26 de Dezembro por ordem dos Oficiais Superiores que, doravante, haveriam de proibir toda e qualquer confraternização entre soldados de campos opostos. A lógica da Guerra rapidamente se sobrepôs ao desejo de Paz que, por horas, triunfou no coração de soldados, sobretudo alemães e depois ingleses. Numa guerra, a trégua não é tudo; mas é um poderoso sinal: de que a Paz é possível, de que a Paz precisa de ser preparada, de que a Paz é o único futuro que interessa. Como em 1914, também hoje. Naquele Natal, as expectativas da Paz foram goradas e a carnificina durou por mais quase quatro anos só terminando em 1918 e uma vez acumulados por toda a Europa muitos outros milhões de vítimas, seres humanos sacrificados nos cadinhos políticos da violência mais insensata, a fratricida. A guerra de 1914-18 merece ser tida por uma tremenda guerra civil europeia, sem dúvida, um dos piores desastres da história humana, uma loucura trágica apenas esperando por ser superada pela hecatombe que se haveria de seguir com o eclodir da Segunda Guerra Mundial, em 1939. Neste Natal, a exatamente 100 anos da trégua que jovens entrincheirados sentiram a inspiração de espalhar no terreno da guerra, é bom que nos recordemos da situação em que, no mundo, ainda estamos: com guerras a acontecer, com desafios de enorme importância, e dificuldade crescente, para o nosso futuro comum como Família Humana, ou de Filhos de Deus.
É, pois, bom, pensar no significado de uma trégua como a do Natal de 1914. Nesse sentido, dou os parabéns à Sainsbury pela iniciativa de realizar um vídeo como este (https://www.youtube.com/watch?v=NWF2JBb1bvM), mesmo sabendo que o interesse primordial da companhia foi e é vender os seus produtos. No que me diz respeito, vergo-me ao bom gosto e ao sentido da responsabilidade. Mas mais que tudo quero hoje recordar que no Natal de 1914 nenhuma voz foi mais clara na defesa da Paz e na condenação da Guerra do que a do Papa Bento XV, um dos poucos líderes mundiais de então, se não mesmo o único, que nunca se cansou de condenar a guerra, que nunca desistiu, mesmo sabendo-se não escutado, e até largamente odiado por o fazer, de lançar lancinantes apelos às potências beligerantes e aos seus líderes, muitos deles cristãos, tanto de um lado como do outro, para que pusessem termo à loucura que se desenhava diante dos olhos de todos, e que só o fanatismo nacionalista, e outras formas de revanchismo, impedia de ver a quem tinha, por dever, de o fazer. Possa, então, este Natal ser de Paz para todos, onde quer que se encontrem os nossos leitores. E que, também como valor, a Paz nunca se perca dentro de nós: em nossos corações, em nossas famílias e comunidades, em nossas sociedades e nações; em nós, onde quer que estejamos. Feliz e Santo Natal!
Aproveito igualmente para fazer divulgação de um Vídeo que, literalmente, tem muito, mas mesmo muito, a ver com o tema acima enunciado. Trata-se do documentário da RTP sobre «As Raízes Cristãs da Europa», divulgado pela primeira vez há exatamente um ano, e em que tive o gosto de participar. Recomendo vivamente a sua visualização a quem ainda não tenha tido a oportunidade de o fazer, aqui: https://www.youtube.com/watch?v=TOkCwmfNCD8.
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