O sexo das palavras

Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada | ionline 2014.07.05

Anda por aí uma flamante moda de chamar 'presidentas' às senhoras que chefiam alguma instituição, seja ela um Estado, como a auto-denominada 'presidenta' do Brasil; um parlamento, como a Assembleia da República; ou uma fundação, como a que administra o legado do Nobel português José Saramago.
Não decorrendo esta extravagância do nefasto desacordo ortográfico, talvez proceda da ideologia do género, que muito gosta de baralhar, na vida e na linguagem, o masculino e o feminino.
Como é sabido, mas não de todos, quando se denomina um sujeito que exerce a acção expressada por um verbo, adiciona-se à raiz verbal os sufixos 'ente', como em docente; 'ante', como em navegante;  ou 'inte', como em contribuinte. É esta a forma correcta, qualquer que seja o sexo ou género do indivíduo de quem se predica. Uma mulher polícia é uma agente da autoridade e não uma 'agenta'; quem fabrica é uma fabricante e não uma 'fabricanta'; uma mendiga é uma pedinte e não 'pedinta'. Portanto, pela mesma razão, quem ocupa a presidência, seja mulher ou homem, é presidente e não 'presidenta'. Outro tanto se diga dos substantivos invariáveis quanto ao género como, por exemplo, atleta, autista, doente, belga, motorista, etc.
É curioso que as promotoras destes femininos não defendam, que se saiba, uma forma masculina para os mesmos étimos. Se a forma 'presidente' não é, a bem dizer, feminina nem masculina e se se pode dizer 'presidenta', porque não também 'presidento'?! Portanto, quem diz 'presidenta' também deveria referir-se ao 'presidento' da República, aos ex-'presidentos' do parlamento e ao 'presidento' da Fundação Gulbenkian ...
Desculpem o atrevimento de quem não é 'especialisto' na matéria, nem 'jornalisto', mas um mero 'cronisto', que espera chegar, um dia, a 'pensionisto' … E valha-nos a Sophia, que não era 'pedanta'!

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