O dia da indulgência


José Maria C. S. André
«Correio dos Açores», «Verdadeiro Olhar», 20-VII-2014
É um bodo aos pobres, com poucos dias de intervalo: na última quarta-feira, 16 de Julho, e novamente neste Domingo, 20 de Julho, pode ganhar-se uma indulgência plenária, com o escapulário do Carmo.
O conceito de «indulgência» é simples, mas talvez pouco conhecido. A Igreja tem um património inesgotável de graças alcançadas por Cristo, por Nossa Senhora e pelos Santos que administra com a máxima misericórdia. Como declarou o Papa Francisco na sua primeira Missa com os fiéis, «a mensagem de Jesus é a misericórdia. Para mim, digo-o com humildade, esta é a mensagem mais forte do Senhor».
Quando nos arrependemos e somos perdoados, ainda falta uma purificação adicional, que se completará no Purgatório. É essa purificação que se pode antecipar com o tal tesouro inesgotável: a indulgência é a atribuição destes méritos, uma grandíssima graça, a troco de um pequeno gesto de boa vontade. No limite, se cumprirmos as condições estabelecidas pela Igreja e tivermos uma completa aversão ao pecado, mesmo a minúsculas ofensas a Deus, alcançamos imediatamente a purificação total, sem Purgatório.
Muitas indulgências relacionam-se com a devoção a Maria. É o caso da festa de Nossa Senhora do Carmo (16 de Julho) e deste Domingo, também relacionado com essa devoção.
Estas indulgências remontam a uma aparição de Nossa Senhora em 16 de Julho de 1251, já lá vão quase 800 anos, ao santo inglês S. Simão Stock, um homem da alta nobreza britânica, educado em Oxford, que se fez monge carmelita. A lista de confirmações pontifícias é imensa. Na última aparição em Fátima, os três Pastorinhos também viram Nossa Senhora do Carmo, com o escapulário na mão. Na opinião da Irmã Lúcia, «...o terço e o escapulário têm hoje uma importância maior do que em nenhuma época passada da história».
Como se sabe, o Papa Francisco não se cansa de dizer que a Confissão e a devoção a Nossa Senhora são dois eixos fundamentais da vida cristã. Há poucos dias (28 de Junho), pegou num grupo de gente nova da diocese de Roma, em fase de discernimento vocacional, e foi com eles até uma imagem de Nossa Senhora nos jardins do Vaticano, para lhes afirmar textualmente:
‒ «Quando um cristão me diz que não ama Nossa Senhora, que não tem vontade de a procurar ou de lhe rezar, sinto-me triste. Recordo um congresso na Bélgica em que (...) falavam muito bem de Jesus. A certa altura perguntei: "E a devoção a Nossa Senhora?". Responderam-me "Já ultrapassámos essa fase; conhecemos Jesus tão bem, que não precisamos de Nossa Senhora". Veio-me à cabeça e ao coração "coitadinhos... pobres órfãos!". De facto, um cristão sem Nossa Senhora é um órfão. E também um cristão sem a Igreja é órfão».
«Um cristão precisa destas duas mulheres, duas mulheres mães, duas mulheres virgens: a Igreja e Nossa Senhora. O teste a uma vocação cristã autêntica é perguntar-nos: "como vai a minha relação com estas duas minhas Mães?", com a mãe Igreja e com a mãe Maria. Isto não é um pensamento piedoso, é teologia pura. Isto é que é teologia. Como vai a minha relação com a Igreja, com a minha mãe Igreja, com a santa mãe Igreja hierárquica? E como vai a minha relação com Nossa Senhora, que é a minha mãe querida, a minha Mãe?».
A misericórdia, que a Igreja administra no sacramento da Confissão, é-nos oferecida por meio de Maria. O Papa gosta de o dizer com uma imagem forte: «Nossa Senhora levou ao colo a misericórdia feita Homem, Jesus».
Mas a imagem mais forte, na minha opinião, é o próprio Papa, ajoelhado no confessionário, confessando-se em público.


O Papa Francisco a confessar-se na basílica de S. Pedro, antes de se ir sentar noutro confessionário a atender os peregrinos.

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