Obrigado, Ryan!

Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada
ionline 2014.07.19
Conhece Ryan O'Shaughnessy? Não, não é 'o soldado Ryan', mas um jovem irlandês que, em 2012, com 19 anos, foi finalista do Britain's got talent . Chamou-me a atenção pela sua boa apresentação: cara lavada, um sorriso franco, sem adereços nem excentricidades, tão comuns no meio artístico. Trajava com simplicidade e dedilhou, na viola, uma belíssima balada da sua autoria.
Tratava-se  de uma espécie de carta de amor, que Ryan tinha escrito para a sua amada, mas que ela, porém, não conhecia, porque ele ainda não se lhe tinha declarado. Então, um membro do júri pediu-lhe que divulgasse o nome da pessoa a quem dedicara a composição. Ryan hesitou e, por uns breves momentos, esteve prestes a fazê-lo, mas depois retraiu-se e não revelou a sua identidade. Uma nova insistência e outra recusa, desta feita mais constrangida: se, por um lado, desejava agradar ao seu interlocutor, por outro sabia que não poderia desvendar aquele seu segredo de amor, sem o profanar. Depois de executada primorosamente a canção, um novo pedido de divulgação do nome da misteriosa dama, mas Ryan, mais uma vez, resistiu, mesmo sabendo que uma tal atitude o poderia prejudicar. Não foi o caso, porque obteve o voto unânime dos jurados.
O pudor é isto mesmo: não é nenhuma vergonha pueril, nem qualquer complexo psicótico, mas a preservação da intimidade necessária à afirmação da própria dignidade e à sobrevivência dos verdadeiros afectos. É como no "tesouro escondido num campo que, quando um homem o acha, esconde-o, cheio de alegria" (Mt 13, 44).
Obrigado, Ryan, pela balada, mas sobretudo por esta sua liberdade e por esta resistência à tentação da publicidade, que fere a beleza íntima do que somos e sentimos. Obrigado pelo pudor, que é a expressão autêntica da grandeza de um verdadeiro amor.

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