O Prémio

Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada | ionline 2014.06.14

Quando alguém cá da terrinha é premiado, é sempre a mesma "cena", como diriam os mais novos. Surgem logo vozes de descontentamento, pondo em causa os merecimentos do agraciado, a isenção da instituição, ou a do júri que decidiu o galardão. Segundo o douto parecer dos ressentidos do costume, muitos outros candidatos o mereceriam mais.
O protesto não se fica por aí, pois aproveita-se a deixa para insultar, na praça pública, a honorabilidade do empresário distinguido, que se acusa de ter uma "colossal" fortuna pessoal (será pecado?!). Pior ainda, insinua-se que o seu enriquecimento se ficou a dever a práticas duvidosas, como "a exploração do trabalho humano (baixos salários, horários excessivos, precariedade nas relações laborais)" e, ainda, a "expedientes fiscais para fugir aos impostos".
Estes novos indignados, que parecem ser muito zelosos no que entendem ser a justiça social, esquecem o mandamento maior: a caridade. Em nome dos pobrezinhos, ofendem a honestidade, a rectidão e a competência de alguém que, entre outros méritos, tem o de ser um dos maiores empregadores do nosso país. É muito bonito dar esmolas aos pobrezinhos, sobretudo se as câmaras da televisão imortalizarem o caritativo gesto do gestor bonzinho, mas é muito mais importante dar trabalho a milhares de mulheres e de homens. Quem tenha feito mais e melhor, que atire a primeira pedra.
Quando Maria, a irmã de Lázaro, ungiu os pés do Senhor com um perfume "colossal", houve quem se indignasse: Judas Iscariotes. O evangelista João explica a razão do seu protesto: "não porque se preocupasse com os pobres, mas porque era ladrão". E Camões, que conhecia bem a grandeza e a mesquinhez de que é capaz a alma lusitana, escreveu nos últimos versos de Os Lusíadas : "De sorte que Alexandro em vós se veja, sem à dita de Aquiles ter inveja".

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