Que assim seja!
Ana Soares
Diário de Trás-os-Montes, 28-07-2013
Quando o Verão nos brinda com uma remodelação governamental, com novo aumento do número de desempregados, com a crise a manter-se dramática no seio dos agregados familiares portugueses, com as obras que tanto tempo foram aguardadas mas que coincidentemente são agora realizadas perto das eleições autárquicas, entre outros assunto que nos visitam quotidianamente, resolvi não referir qualquer destes temas na presente crónica.
Após uma ausência forçada por motivos profissionais, achei que deveria partilhar alguns pensamentos sobre um tema positivo, de renovada esperança e que diz respeito à consciência de cada um de nós, sem obviamente pretender impor qualquer crença ou desrespeitar aquilo que para mim é um dado adquirido: o respeito por qualquer religião diferente da minha.
Numa altura de particular crise em todo o mundo, é um bálsamo para a alma ver o sorriso do Papa Francisco, a frontalidade com que Ele aborda os assuntos mais sensíveis da Igreja e a naturalidade com que encara o Papado e aquelas que sempre foram as principais missões da Igreja.
Ouvir o Papa falar da força dos Jovens, do erro de exclusão do que considera serem os dois polos da vida - os mais Velhos e os Jovens, condenado veemente o desemprego jovem e a não audição de ambos- da Felicidade, da Coragem, da Alegria da Fé, dos bons momentos que a vida nos oferece por mais difíceis que sejam os tempos que vivemos é, independentemente da Fé que cada um de nós tem, um discurso que não nos pode ser indiferente no actual contexto internacional. Parece até que num mundo a preto e branco onde o cinzento é tantas vezes já uma terceira cor de alguma esperança, nos impõe um arco-íris que tantos de nós apenas já conseguíamos recordar.
Actualmente decorre a vigésima oitava Jornada Mundial da Juventude no Brasil, país que desde o passado mês de Junho tem sido palco de uma impressionante contestação popular. Ver a naturalidade com que o primeiro Papa latino-americano se dirige a tantos jovens e a uma população que não tem acesso aquilo que são serviços públicos essenciais na maioria dos países desenvolvidos impõe-se num jogo de cadeiras politicamente correcto.
Na verdade, o Papa não se limita a pedir que a Igreja vá ao encontro do povo, é ele o primeiro a quebrar o protocolo e, sempre de sorriso no rosto, a aproximar-se daquele que é o campo de excelência da Igreja: o coração de cada um de nós, sem nunca colocar de parte a laicidade do Estado, que considera fundamental, e o respeito entre as várias religiões.
Fala ainda o Papa dos esquecidos, das regiões da periferia dos países, das grandes cidades e dos centros urbanos que tantas vezes são brindados com o esquecimento e pobreza, de modo incompreensível, apelando à mudança.
Disse hoje o Papa no nosso país irmão Brasil que "O futuro exige de nós uma visão humanista da economia e uma política que realize cada vez mais e melhor a participação das pessoas, evitando elitismos e erradicando a pobreza".
Apenas me resta dizer: "Que assim seja!".
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