Somos incertezas. Somos fé
Nada na vida é garantido senão a morte. A nossa. A única que conheceremos verdadeiramente. Mas, até essa certeza encerra em si um mistério do tamanho da vida: é a chegada ou uma partida?
Somos incertezas. A forma como lidamos com elas determina a nossa vida.A sabedoria caracteriza-se por ter sempre muito mais dúvidas que certezas, a ignorância funciona de forma inversa, sendo a principal fonte das aparentes infalibilidades.
Há também quem invente desgraças imaginárias, como se as que há não lhe chegassem...
É no mínimo intrigante que a maior das certezas, a morte, seja tantas vezes remetida para ao esquecimento, que faz parecer tratar-se de algo apenas provável e pouco relevante. Não o é.
O homem está ancorado à morte. Ela é-lhe absolutamente certa. Seria bem melhor que aprendêssemos a viver dentro da verdade. As mentiras são fraquezas (tantas vezes potentes) que tentam iludir-nos quanto às facilidade e potencialidades ilusórias das alternativas longe da autenticidade. Podemos andar incertos sim, mas com a obrigação de vivermos em verdade. Vivendo a verdade. Sem nos deixarmos enganar pelas tentações das pressas e preguiças nem cairmos no mal de não sermos nós mesmos... tantas e tantas vezes rendidos à fantasia de que esta vida é eterna.
A incerteza inspira uma confiança em nós mesmos, dado que se constitui como um desafio que devemos enfrentar. O que subsiste ao crivo das dúvidas prova a sua verdade e, por conseguinte, o seu valor. Demora sempre algum tempo até que se consiga perceber a bondade da incerteza. Mas quem é capaz de esperar pelos bons juízos, sem ceder a pré-juízos, sabe que a incerteza é o caminho certo para a verdade.
Antes de decidirmos é comum e inteligente que haja incerteza; mas também depois da decisão tomada é bom que tenhamos em conta que as incertezas, apesar de terem ganho outra forma, se mantém ou mesmo aumentam.
Algumas sociedades lidam com a ansiedade que ataca constantemente o espírito humano com respostas mais ou menos concretas que permitem reduzir o seu impacto negativo. Assim apareceu a ciência como forma de tentar compreender o misterioso e conseguir dominá-lo; também o direito que permite regular o comportamento dos outros, permitindo-se assim uma previsibilidade confortável; e, as crenças, que funcionam tantas vezes como reduto de explicação último e fantástico no qual acreditamos estarem todas as respostas e soluções para os nossos problemas e fim das nossas incertezas. Mas não funciona assim... ciência, direito e crenças não são senão artifícios sociais para um problema que só pode ser resolvido pessoal e interiormente.
Nada na vida é garantido senão a morte. A nossa. A única que conheceremos verdadeiramente. Mas, até essa certeza encerra em si um mistério do tamanho da vida: é a chegada ou uma partida?
Uns preferem lidar com a contingência do mundo de forma mais extrovertida, partilhando solidariamente as dores da liberdade com quem se lhes cruza no caminho; outros há, que preferem introverter-se, aprofundando um recolhimento cuja solidão propicia um combate mais eficaz... uns e outros, lutam por vencer o desassossego, uns e outros procuram a paz da certeza. A força da paz. O sonho. Face ao nada... há que lutar por ser.
A fé é o reconhecimento, adesão e confiança numa verdade de ordem superior, onde cada vida concreta tem um sentido e valor absolutos.
A fé é uma retribuição do amor que justifica e suporta a nossa existência, porque amar é experimentar a verdade.
As incertezas vivem no coração da fé. Aí se trava a guerra que nos define a identidade.
Somos fé. Aquela que sabe que o amor é o caminho.
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