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A mostrar mensagens de maio, 2015

Temos pena!

Helena Matos |  Observador | 31/5/2015 Vão chorar a oportunidade perdida, a falta de coragem. E, claro, vão dizer que não houve estadistas à altura do problema. Falo obviamente da Segurança Social. Sentados nos estúdios de televisão vão dizer que foi falta de visão, que não houve coragem. Pior, que em Portugal as coisas nunca se discutem a tempo. Alguns mais expeditos nestas artes de passar por entre os pingos da chuva vão afivelar um ar compungido para em seguida colocarem a génese do problema num tempo qualquer ideologicamente útil; o Estado Novo, por exemplo. Mas o PREC e “esta austeridade” (como será “aquela austeridade”?) também podem dar jeito. Nos jornais, rádios, nas justiceiras redes sociais o exercício vai repetir-se. No fim vão chorar a oportunidade perdida, a falta de coragem. E, claro, vão dizer que não houve estadistas à altura do problema. E vão dizê-lo com aquele ar de quem naturalmente se considera à altura de tudo. E claro que têm pena, aliás sentem uma pena

Vamos fazer do dia 31 de Maio o dia dos Irmãos

Se queres ver uma criança feliz, dá-lhe um irmão; se queres ver uma criança muito feliz, dá-lhe muitos irmãos Fernando Ribeiro e Castro (1952-2014)

31 de Maio - dia dos irmãos

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Um testemunho: do irmão que não tive ao irmão que tudo me deu

ROBERTO CARNEIRO Público, 31/05/2015 Quando em criança me confrontava com amigos que viviam felizes entre irmãos, lamentava-me interiormente de ser filho único. Quando em criança me confrontava com amigos que viviam felizes entre irmãos, lamentava-me interiormente de ser filho único, de não ter um par doméstico para brincar e com ele(a) partilhar alegrias e desgostos. Fui crescendo nessa frustração, quando comecei a ganhar contacto com leituras universais como as dos irmãos Grimm ou do afamado trio Huxley, ou ainda ao me familiarizar com as lendas dos míticos Rómulo e Remo, fundadores de Roma, que, nas mais diversas narrativas, me foram acentuando um travo amargo de saudade dos irmãos que não tive. Por muito que se visse momentaneamente abalada essa convicção com o conhecimento do fratricídio relatado no Génesis — Caim vs. Abel — ou com a complexa tessitura do parricídio levado a cabo pelos filhos e irmãos, magistralmente urdida por Dostoyevsky na sua imortal obra Os Irmãos Ka

A minha filha e a discriminação

Inês Teotónio Pereira ionline, 2015.05.30 A nossa luta, a minha e a dela, tem várias frentes. Uma delas tem a ver com a força. Como eles a reconhecem como igual, lutam com a coitadinha como se fosse um rapaz. Em minha casa tenho um problema de igualdade de género. Os meus cinco filhos acham que a minha única filha é igual a eles. Enquanto no mundo real existe uma diferença de tratamento em relação às mulheres e aos homens, sempre numa tentativa de combater a discriminação, promovendo-se a igualdade na diferença, em minha casa faz-se de tudo isto tábua rasa. A falta de discriminação da minha criançada é absolutamente chocante. E, assim, a minha filha sobrevive no meio de cinco rapazes num constante desassossego e sem direito a um tratamento especial por estar em clara minoria e por ser de um género diferente.  A nossa luta, a minha e a dela, tem várias frentes. A primeira tem a ver com a força. Como eles a reconhecem como igual, lutam com a coitadinha como se fosse um rapaz,

O TEMPO COMO O VENTO

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José Luís Nunes Martins Facebook , 2015.05.30 As horas e os anos sopram apagando as paixões superficiais, ao mesmo tempo que avivam e incendeiam o fogo das mais profundas. Aquilo que é leve levanta voo como se fosse importante e, pouco depois, com o passar do tempo desaparece… Ao que é sólido, o tempo revela-o à medida que se vão perdendo as superficialidades que lhe escondem os contornos. A verdade está, quase sempre, sob um manto sujo...  . Somos como pedras. Mais pequenas ou maiores, grãos de areia ou rochedos. A proximidade é mais importante do que o tamanho. O mais pequeno grão de areia, se estiver próximo, é maior do que uma montanha ao longe. Até porque uma montanha ao longe é um mero grão de areia… e um grão de areia é sempre um quase nada. . Importa estar atento ao outro, cuidar do que nele se mantém tanto quanto do que se modifica, celebrando o que de bom não se altera, tanto quanto aquilo que nele muda para melhor… tolerando o mal que teima em ficar, tanto qua

Coisas do diabo

P. Gonçalo Portocarrero de Almada |  Observador 30/5/2015 Os demónios existem e actuam, mesmo que neles não se acredite. Seja ele um Charlie mexicano, ou francês, o melhor é não lhe dar troco. É “assassino desde o princípio”, alguém em quem “não há verdade". O princípio do mal é um absurdo, porque o mal absoluto é o nada e o nada não é. O príncipe do mal, pelo contrário, existe e – espantem-se! – é bom. De todos os modos, o melhor é mesmo não acreditar nele … O diabo está na moda: não só uma reportagem do Observador deu conta de um jogo que está a fazer furor no Twitter e que alegadamente permite contactar Charlie, um espírito mexicano do mal, mas também o i fez recentemente uma grande entrevista a um exorcista português. Que o demónio existe, não é pacífico. Muitas pessoas o negam, remetendo a sua existência para o imaginário de antigas fábulas ou de inverosímeis mitos religiosos. Aliás, ele próprio, o maligno, também afirma o mesmo, ou seja, que não existe, por uma ra

Dever

O dever é o que se espera dos outros, não o que se espera de si mesmo Oscar Wilde

A economia dos policiais – em memória de John Nash

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Inês Domingos   Observador 25/5/2015 8, 17:30 Um dos principais contributos de Nash para a Economia vem da sua tese de doutoramento em Princeton em 1950, em que Nash complementa a obra de von Neumann e Morgenstern. A cena é uma sala mal iluminada por uma lâmpada branca crua. Paredes encardidas e chão riscado. Uma mesa com pernas desequilibradas e uma cadeira dura. Um homem mal dormido e desesperado por um cigarro espera que chegue um detetive da PJ para lhe fazer a pergunta a que ele não quer responder: quem é que assaltou a velhinha? Ele resiste. Quando tinha falado com o companheiro na véspera, antes do assalto, tinham combinado que não diziam nada se fossem apanhados. Mas o PJ é simpático, atencioso, propõe um negócio irrecusável, se confessar antes do outro leva só um ano de cadeia mas se o outro confessar antes leva dez anos Todas as semanas esta cena é recriada em livros, na televisão, no cinema. E em todas as vezes os aficionados de policiais ficam em “suspense”. Mas Jo

Diagnosticaram-me ideologia

Maria João Marques|  Observador 27/5/2015 Para Costa, o seu novo pregão arrepiante – o de ‘estado empreendedor’ – não é ideológico; a ideologia, aparentemente, só contagia pessoas de direita. A esquerda é imune a preconceitos e ideologias. ‘Ideologia’ foi uma doença muito avistada depois de PSD e CDS ganharem as eleições de 2011. Todas as pessoas decentes do país se queixaram, nos primeiros seis meses do governo, que a malvada coligação queria implementar um ‘programa ideológico’. Acabar com as golden shares foi ‘ideológico’, as alterações da legislação laboral tresandaram a’ ideologia’, o corte dos subsídios aos funcionários públicos esteve carregadinho do pecado ‘ideológico’, os cortes na despesa nos vários setores (de resto menores do que os negociados pelo PS no memorando de entendimento) foram o cúmulo da ‘ideologia’. Com a proximidade das eleições, os diagnósticos de ‘ideologia’ têm explodido outra vez nos lados dos técnicos de saúde política afetos ao PS. Eu nos últim

A grande regressão

Paulo Tunhas |  Observador 28/5/2015 A linguagem é sem dúvida um dos meios mais eficazes para nos fazer sair para fora da realidade e de fingir que ela não existe. A forma como o Syriza o está a fazer é deprimente. Uma palavra que vem à cabeça quando se olha um pouco à nossa volta é: regressão. Na televisão, na ideologia, em muito discurso político, um pouco por todo o lado, volta-se atrás nas formas e nos conteúdos. Quase até à infância. Comecemos pela ideologia. Sob a capa da novidade e da juventude, movimentos como o Syriza representam um retorno a formas arcaicas de pensar a sociedade e de lidar com a realidade. Há sem dúvida razões apontáveis para que tais movimentos tenham sucesso. Entre outras, a corrupção das elites políticas e, de uma forma muito significativa, o abalo provocado pelo sentimento de perda de soberania a que a chamada “construção europeia” conduziu muitos cidadãos dos Estados-Membros. Resta que a regressão ideológica que se observa – simétrica, de resto,

O sector GES

JOÃO CÉSAR DAS NEVES DN 2015.05.27 O colapso do Grupo Espírito Santo é, simultaneamente, único e típico. Este paradoxo constitui mais um elemento insólito do extraordinário fenómeno que começamos a compreender graças a investigações como a do Parlamento. Não é difícil constatar a espantosa singularidade da situação. Em qualquer país do mundo seria raríssimo que uma família conseguisse tal longevidade, sucesso e controlo nos negócios, consistentemente ao longo de múltiplos e contraditórios regimes e conjunturas. A partir de um núcleo original financeiro, mas estendendo a presença a variados sectores, aquilo que se veio a chamar o GES esteve quase 150 anos no centro das decisões nacionais. E, mesmo quando tudo pareceu terminar, com a nacionalização de 1975, conseguiu um renascimento espectacular que lhe trouxe ainda mais poder e influência. Ricardo Salgado foi, se possível, mais respeitado e determinante na política e economia que os seus ilustres antepassados. Se era imponent

Não quer apoiar o dia dos irmãos?

Não quer apoiar a iniciativa que cria o dia dos irmãos? Ao princípio também eu era renitente. Há tantos dias, disto e daquilo. Mas como diz a  Margarida , não há nenhum dia dos irmãos e faz falta O "Dia dos Irmãos"  Margarida Gonçalves Neto

O “Dia dos Irmãos”

MARGARIDA GONÇALVES NETO 26/05/2015 - 01:50 A existência do Dia dos Irmãos pretende assinalar o mais feliz que podemos ser: irmãos. É verdade que existem dias para quase tudo. Mas também é verdade que não existe o Dia dos Irmãos. Ainda não existe. E faz falta. Faz-nos falta. O calendário assinala datas, efemérides, memórias. Por isso se destacam dias especiais, para celebrar o que de mais importante somos ou temos. Eis o que propomos: a criação do Dia dos Irmãos, em 31 de Maio. Um dia dedicado ao significado, à celebração e à memória dos irmãos. A vida vai-se construindo em torno de afectos, acontecimentos, aprendizagens, compromissos, e tantas outras coisas. Os irmãos são os nossos mais próximos, são parte de nós. Crescemos com eles e eles crescem connosco, numa teia de cumplicidades e vivências comuns. O que acontece entre irmãos é único, irrepetível, molda a nossa vida para sempre. Por isso se torna tão importante assinalar um dia dedicado aos irmãos, à relação entre

Obviamente!

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Vital Moreira, Causa Nostra , 2015.05.26 Alguém podia explicar a esta senhora duas coisas elementares, a saber:  (i)  que o BES foi efetivamente "nacionalizado" sob a forma do Novo Banco, cujo capital pertence a um fundo público;  (ii)  que, se em vez da "resolução" do BES e criação do NB,  tivesse havido nacionalização propriamente dita daquele, o Estado tinha assumido não somente o capital do BES mas também as suas responsabilidades com investidores e credores, gerando mais um gigantesco "buraco" para as contas públicas. Por isso,  a nacionalização do BES teria sido uma estupidez política e financeira , "obviamente".

Prosperidade sem crescimento

JOÃO MIGUEL TAVARES Público 26/05/2015 Não quero que metade das promessas eleitorais tenha de ir borda fora assim que a realidade começar a desmentir o optimismo destes números. Porque vai desmentir. O título desta crónica não é meu, mas de um livro de Tim Jackson, lançado pela editora Tinta da China há dois anos. Jackson é professor de Desenvolvimento Sustentável e o seu livro parte de uma tese que convém começarmos a levar a sério — a de que o crescimento não pode continuar a ser uma obsessão das sociedades ricas: “Num mundo de recursos finitos, constrangido por limites ambientais rígidos, ainda caracterizado por ilhas de prosperidade no meio de oceanos de pobreza, será legítimo que o crescimento perpétuo dos rendimentos daqueles que já são ricos sirva de apoio às nossas esperanças e expectativas?” Aquele “será legítimo” coloca a questão no domínio moral — é como se “crescer” ou “não crescer” fossem duas opções possíveis, e estivesse nas nossas mãos escolher uma delas. Con

Espanha: a política dos pequenos e médios

Rui Ramos Observador 25/5/2015 Em Espanha, os cidadãos votam, mas deixaram de saber no que votam, porque não é fácil adivinhar qual a composição e a orientação dos governos que vão sair das negociações e acordos pós-eleitorais. Em Espanha, nas eleições municipais e autonómicas, o PP, com 27% dos votos, conseguiu derrotar o PSOE, com 25%. Essa, porém, já não é a história. No radar da imprensa bem-pensante, o que conta é outra coisa: o chamado “fim do bipartidarismo”, com a ascensão eleitoral de novos partidos. De facto, os gráficos de barras com as percentagens de votação de cada partido lembram agora pedaços de um arco-íris – além do PP e do PSOE, aparecem o Ciudadanos (terceiro partido municipal), as candidaturas do Podemos (que venceu em Barcelona), mais a Esquerda Unida (que encolheu) e os nacionalistas (abalados na Catalunha). Deixou de haver, na estatísticas eleitorais, grandes partidos. São todos pequenos e médios. Há sem dúvida mais escolha, mas há também menos clarez