Ódio
João Pereira Coutinho | Correio da manhã | 05.12.2014
Cartas prisionais de Sócrates são documentos históricos de ódio.
Cartas prisionais de Sócrates são documentos históricos de ódio.
Gosto de ler a prosa revolucionária (e, em muitos casos, prisional) de alguns beneméritos que fizeram e desfizeram o século XX. Ali, em tom vermelho (de sangue), é vê-los a disparar contra o mundo, ao mesmo tempo que se consideram vítimas dele. Esta tradição continua viva com José Sócrates. Sim, o homem já tinha ficado na história como o primeiro-ministro que levou o país à bancarrota. Mas agora, em prisão preventiva, abre-se um novo capítulo: o de um ex-primeiro-ministro que, em cartas para jornais (escritas a vermelho), não se limita a proclamar a sua inocência (o que seria legítimo). Sócrates vai mais longe: ele arrasta pela lama juízes, professores, jornalistas, políticos – no fundo, o regime democrático inteiro. Não sei se o autor tenciona reunir estes textos em obra autónoma. Espero que sim. Na literatura doméstica, fazem falta estes documentos de ódio.
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