Drones – o braço da América alcança longe...

Jaime Nogueira Pinto Sol, 4 de Novembro, 2013 
 No dia 30 de Setembro de 2011, em Khashef, província de Jawf, a cerca de 140 km da capital iemenita, Sana, Anwar al-Awlaki, um clérigo islâmico, líder da AQAP – al-Qaeda na Península da Arábia – foi morto, quando se deslocava num comboio de viaturas com alguns dos seus homens. A morte chegou-lhe bruscamente do céu, por via de um míssil disparado por um drone. Al-Awlaki não era um inocente: estava envolvido em vários atentados nos Estados Unidos, onde fora o mandante da morte de 13 militares pelo major Nidal Malik Hasan, um militar islâmico-americano, na base de Fort Hood, em Novembro de 2009; fora o inspirador do atentado falhado contra o voo 253 da Northwest Airlines, sobre Detroit, e tinha um longo historial terrorista desde o 11 de Setembro aos atentados no metropolitano de Londres em 2005. Al-Awlaki e os seus companheiros foram mortos por um drone, teleguiado de uma base longínqua. A operação que terminou na sua morte deve ter passado por uma série de fases e deu lugar a fortes ataques contra o Presidente Obama, vindos não só da esquerda progressista como da direita libertária. A esquerda porque é contra a 'guerra antiterrorista' de Obama, que considera uma 'traição' ao seu ideário humanitário. A direita porque acha o uso dos drones um acto abusivo do Presidente, ao mandar executar um 'cidadão norte-americano' (al-Awlaki nascera no Novo México), em clara violação dos princípios do due process of law. Os drones tornaram-se numa arma 'normal' na luta antiterrorista. O número de ataques e mortes tem conhecido um ritmo que acompanha os altos e baixos da acção norte-americana na guerra no Médio Oriente. Intensificou-se na presidência de Barack Obama. Em 2008, último ano da presidência Bush, houve cerca de 300 mortos por drones no Paquistão; passaram para 550 em 2009, o primeiro ano de Obama, 850 em 2010, 500 em 2011 e 300 em 2012. Os drones são engenhos não pilotados, teleguiados, que podem servir de plataformas de observação e também de ataque. O invento veio de Israel que os usou contra os líderes activistas palestinianos. Normalmente a partir de dados fornecidos por redes de informadores locais, no Paquistão, no Afeganistão e no Iémen, coligidos e tratados pela CIA, o alvo localizado é entregue à monitorização da base e é observado, às vezes durante meses. O 'processo' é instruído administrativamente e avaliado por um comité de selecção que elabora uma lista de alvos potenciais, os quais passam a ser seguidos à distância segundo a perigosidade e a oportunidade, atendendo a minimizar 'danos colaterais' . O comité leva a lista e os respectivos dossiês ao Presidente. E é este quem tem a decisão e (às vezes) a sentença final. Foi assim no caso al-Awlaki, que Obama considerou um golpe maior num dos ramos mais activos da galáxia al-Qaeda. Mas a discussão sobre a legitimidade e utilidade dos drones está, agora, no auge. Talvez faça sentido voltarmos a ela.

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