Discurso e contradição
RR on-line 12-04-2011 15:54 Miguel Morgado
É pena que esta gente não tivesse mostrado a sua habitual preocupação com a “qualidade da democracia”. A contradição ficaria assim completa. E a nossa gargalhada também.
Para meu espanto não faltaram elogios ao discurso de abertura de Sócrates no congresso do PS. Congressistas e comentadores profissionais renderam-se. Uns com um tom aproximadamente sóbrio; outros em pleno êxtase e comoção. «Bem conseguido», disseram uns. «Eficaz», exaltaram outros. Sucede que muitas das pessoas que participaram na histeria nem se aperceberam de que incorriam numa grave contradição.
Que o PS derrota toda a concorrência quando chega o momento do marketing político e da encenação mediática, já sabíamos desde Guterres. Mas quando se enaltece e se valoriza um discurso programado ao milímetro para suscitar um determinado efeito entre as hostes, desprezando por inteiro o conteúdo político propriamente dito; quando se medem os decibéis dos gritos de apoio, e se tomam como irrelevantes a mistificação, a mentira, o sacudir de responsabilidades, a manipulação de paixões como o medo e a ansiedade num país vulnerável; quando tudo isto acontece, o que se está a fazer senão consagrar a pura eficácia do mercado em detrimento dos ideais políticos e dos princípios morais?
Mais: mercantiliza-se aquilo que o malvado neoliberalismo não se atreve a mercantilizar.
Almeida Santos não disfarça uma coisa destas levando o pobre do Adam Smith para uns açoites no pelourinho de Matosinhos, como pateticamente tentou fazer.
É que esta prática está completamente às avessas do que muitas destas pessoas proclamam quando fazem juras de amor ao Estado social, ou quando denunciam a direita política como uma forma organizada de crime perpétuo contra a humanidade.
É pena que esta gente não tivesse mostrado a sua habitual preocupação com a “qualidade da democracia”. A contradição ficaria assim completa. E a nossa gargalhada também.
Que o PS derrota toda a concorrência quando chega o momento do marketing político e da encenação mediática, já sabíamos desde Guterres. Mas quando se enaltece e se valoriza um discurso programado ao milímetro para suscitar um determinado efeito entre as hostes, desprezando por inteiro o conteúdo político propriamente dito; quando se medem os decibéis dos gritos de apoio, e se tomam como irrelevantes a mistificação, a mentira, o sacudir de responsabilidades, a manipulação de paixões como o medo e a ansiedade num país vulnerável; quando tudo isto acontece, o que se está a fazer senão consagrar a pura eficácia do mercado em detrimento dos ideais políticos e dos princípios morais?
Mais: mercantiliza-se aquilo que o malvado neoliberalismo não se atreve a mercantilizar.
Almeida Santos não disfarça uma coisa destas levando o pobre do Adam Smith para uns açoites no pelourinho de Matosinhos, como pateticamente tentou fazer.
É que esta prática está completamente às avessas do que muitas destas pessoas proclamam quando fazem juras de amor ao Estado social, ou quando denunciam a direita política como uma forma organizada de crime perpétuo contra a humanidade.
É pena que esta gente não tivesse mostrado a sua habitual preocupação com a “qualidade da democracia”. A contradição ficaria assim completa. E a nossa gargalhada também.
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