A Paixão de Bento XVI

Sol, 2010.04.19  Pedro da Rosa Ferro, Economista

O Papa enfrenta um fogo cerrado dos meios de comunicação social por causa dos casos de pedofilia. Não faz mal repetir que a violação de crianças é um crime repugnante. Um caso seria de mais – e foram muitos. Não basta pedir perdão; é preciso evitar reincidências, como Bento XVI doloridamente vincou

 

 


Todavia, a ferocidade desse ataque suscita alguma perplexidade, sobretudo porque foi despoletado por um caso, velho de 24 anos, de alegado ‘envolvimento’ de Ratzinger, já desmentido. Vale a pena aprofundar o assunto para poder emitir juízos prudentes.

Recentemente, o sociólogo italiano Massimo Introvigne (1) relembrou os resultados do estudo de referência do John Jay College, reconhecido como a mais autorizada instituição académica americana em criminologia.

Entre 1950 e 2002, 4.392 sacerdotes americanos (num total de 109 mil) foram acusados de manter relações sexuais com menores. Pouco mais de uma centena foram condenados pelos tribunais civis.

Em alguns casos, os acusados tinham morrido ou os alegados crimes tinham prescrito. 78% das acusações referiam-se a menores com idade superior a 16 anos, o que é certamente vergonhoso, mas não é pedofilia: os padres condenados por pedofilia efectiva foram 54.

Houve, também, casos gritantes de sacerdotes inocentes que foram acusados, quando alguns advogados perceberam que podiam sacar indemnizações milionárias na base de simples suspeitas. Introvigne acrescenta que os números não mudariam de forma significativa se lhes juntássemos o período de 2002 a 2010, porque o estudo do John Jay College já fazia notar o notável declínio do número de casos observado no ano 2000.

Por outro lado, a correlação entre celibato e pedofilia fora tratada e descartada por Philip Jenkins (professor de História e Estudos Religiosos, University State of Pennsylvania): o número de treinadores de desporto e de professores de ginástica condenados nos tribunais americanos por abusos sexuais de menores é 60 vezes o de sacerdotes católicos culpados do mesmo delito, em igual período; dois terços dos abusos sexuais a menores são feitos por membros da família (padrastos, tios, primos…) e não por estranhos ou educadores, de acordo com relatórios do Governo americano.

E existem dados semelhantes relativamente a muitos outros países. Contudo, segundo Philip Jenkins, há uma correlação mais provável: 90% dos sacerdotes católicos condenados por abusos sexuais de menores e pedofilia têm uma orientação homossexual.

Sendo assim, parece que a tragédia da pedofilia não é razão, mas pretexto, para tanta crítica. Julgo, contudo, que há dois motivos para esse clamor, um bom e outro mau.

O primeiro é que o mundo espera mais dos padres que dos padrastos e professores de ginástica. Mesmo a imprensa hostil à Igreja Católica espera dela um testemunho de verdade e santidade, capaz de transcender a baixeza e o espírito do tempo. E tem direito.

O outro motivo é ainda o desejo de ‘ecraser l’infame!’ e minar a autoridade moral da Igreja. Sendo quase a única voz a erguer-se na afirmação da vida e da família, trata-se de a desqualificar preventivamente com a insinuação mais infamante, que é também, hoje em dia, a mais fácil: favorecer ou tolerar a pedofilia. Nada de surpreendente, se nos lembrarmos que «não é o discípulo mais do que o Mestre» e que lhe corresponde ser «sinal de contradição».

Tal como o seu Senhor, a Igreja é repetidamente traída pelos seus fiéis e perseguida, flagelada, escarnecida, crucificada (e também purificada) pelos seus inimigos – o que, aliás, lhe foi prometido por Ele e prova que ‘não perdeu o sal’. E quando o Papa vier visitar-nos, em Maio, eu lá estarei.

Pedro da Rosa Ferro
Economista

 

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