A coragem de Bento XVI
Zita Seabra
JN 2010.04.04
Encontro-me entre aqueles que admiram muito e gostam do actual Papa Bento XVI. No que escreve, no que diz, nos seus gestos encontramos sempre um intelectual, uma resposta culta, uma busca do racional num homem profundamente crente e, sobretudo, vemo-lo entrar certeiro nas grandes questões ideológicas que atravessam um mundo global. Nunca é um Papa acomodado à varanda de São Pedro, olhando apenas os que vão ao seu encontro. Bento XVI é inquieto, tem a inquietude do grande teólogo, do homem culto que sabe que a Igreja Católica precisa de estar virada para as questões que atravessam as sociedades cultas, e não pode divorciar-se das elites europeias e norte-americanas.
Bento XVI, ao longo da sua vida, nunca se furtou a polémicas, a debates, ao confronto. Enquanto teólogo, enquanto académico e, agora, como Papa não podia mudar. Logo no início do seu papado, tornou claro que a Igreja é universal mas que a grande necessidade de evangelizar estava nos dias de hoje nas sociedades mais intelectualmente desenvolvidas (na Europa e nos Estados Unidos) sob pena de continuar a afastar-se das elites e se acantonar, o que não seria pouco, nos pobres e no socorro da miséria de vida do mundo subdesenvolvido.
Fê-lo ao longo da vida e continua a fazê-lo hoje. Nenhum dos seus escritos que eu tenha lido são fáceis de ler e se tornam no panfleto de propaganda da fé. Foi sempre assim. Desde o seu primeiro livro Introdução ao Cristianismo enquanto jovem teólogo, passando pelo Catecismo da Igreja Católica de que foi um dos redactores principais, até ao seu livro Jesus de Nazaré, nunca se encontra uma linha ou palavra que simplifique a leitura e facilite a vida de quem lê.
Corajoso, racional, didáctico, filósofo, crente profundo na tradição do melhor que a Alemanha sempre produziu, transmite a sensação de que não quer ver a sua Igreja acantonada às paredes do templo. É uma linha inquieta, perturbadora, muitas vezes surpreendente, que leva a que nestes cinco anos não deixe de ser notícia. Foi assim em Ratisbona, no seu célebre discurso universitário, ou em Paris quando falou aos académicos, foi assim no debate de fé e razão, foi assim no que escreveu e proporcionou que se escrevesse a propósito de evolucionismo e criacionismo, ou na Encíclica a Caridade na Verdade em que actualiza a Doutrina Social da Igreja ao séc. XXI, à globalização.
Assim se entende que um Papa como Bento XVI não possa deixar de enfrentar com a mesma coragem e lucidez, problemas que se arrastam tristemente na sua casa, na Igreja Católica. Sou dos que consideram a pedofilia um crime hediondo contra crianças indefesas. Um crime sem perdão, sem desculpa. Horroriza-me a tese de que a pedofilia seja uma doença e que os pedófilos sejam assim encarados como doentes. Doentes são gente sem culpa e sem liberdade. Só a culpa torna as pessoas livres. Só há pecado, se eu for livre de pecar. Um doente não é livre. Horrorizou-me sempre a ideia de que um rico quando rouba é um cleptómano e um pobre é um ladrão… Não tenho nenhuma condescendência para com quem destrói a vida de uma criança servindo-se do seu poder de professor, de padre, ou de pai.
Bento XVI, como sempre fez na sua vida, não podia deixar que pairassem sobre a Igreja casos de criminosos que, varridos para debaixo da carpete, deixavam pairar a suspeição sobre todos. Nada há pior para minar uma instituição do que a generalização da insinuação, da suspeição. Em Boston ou na Irlanda não podem pairar sobre a Igreja Católica dúvidas, nem desculpas, nem insinuações que se colam a todos, pela falta de coragem de agir. Não podem os criminosos ficar debaixo dos tapetes e as vítimas silenciadas pelo tempo que não apaga um crime destes. É isso que o Papa corajosamente tem dito, escrito e feito.
Independentemente do número, Ratzinger não podia deixar de encarar esta questão nem que tivesse apenas a dimensão de uma paróquia, sob pena de permitir que continuassem a minar a credibilidade da Igreja e a suspeição sobre todo aquele que veste uma batina. Para já não falar no perigo de deixar quebrar a confiança dos pais que levam os seus filhos à catequese ou os matriculam nos colégios católicos que em todo o mundo têm marca de competência e qualidade. Foi isso que escreveu em palavras certeiras e precisas aos católicos irlandeses.
Bento XVI, ao longo da sua vida, nunca se furtou a polémicas, a debates, ao confronto. Enquanto teólogo, enquanto académico e, agora, como Papa não podia mudar. Logo no início do seu papado, tornou claro que a Igreja é universal mas que a grande necessidade de evangelizar estava nos dias de hoje nas sociedades mais intelectualmente desenvolvidas (na Europa e nos Estados Unidos) sob pena de continuar a afastar-se das elites e se acantonar, o que não seria pouco, nos pobres e no socorro da miséria de vida do mundo subdesenvolvido.
Fê-lo ao longo da vida e continua a fazê-lo hoje. Nenhum dos seus escritos que eu tenha lido são fáceis de ler e se tornam no panfleto de propaganda da fé. Foi sempre assim. Desde o seu primeiro livro Introdução ao Cristianismo enquanto jovem teólogo, passando pelo Catecismo da Igreja Católica de que foi um dos redactores principais, até ao seu livro Jesus de Nazaré, nunca se encontra uma linha ou palavra que simplifique a leitura e facilite a vida de quem lê.
Corajoso, racional, didáctico, filósofo, crente profundo na tradição do melhor que a Alemanha sempre produziu, transmite a sensação de que não quer ver a sua Igreja acantonada às paredes do templo. É uma linha inquieta, perturbadora, muitas vezes surpreendente, que leva a que nestes cinco anos não deixe de ser notícia. Foi assim em Ratisbona, no seu célebre discurso universitário, ou em Paris quando falou aos académicos, foi assim no debate de fé e razão, foi assim no que escreveu e proporcionou que se escrevesse a propósito de evolucionismo e criacionismo, ou na Encíclica a Caridade na Verdade em que actualiza a Doutrina Social da Igreja ao séc. XXI, à globalização.
Assim se entende que um Papa como Bento XVI não possa deixar de enfrentar com a mesma coragem e lucidez, problemas que se arrastam tristemente na sua casa, na Igreja Católica. Sou dos que consideram a pedofilia um crime hediondo contra crianças indefesas. Um crime sem perdão, sem desculpa. Horroriza-me a tese de que a pedofilia seja uma doença e que os pedófilos sejam assim encarados como doentes. Doentes são gente sem culpa e sem liberdade. Só a culpa torna as pessoas livres. Só há pecado, se eu for livre de pecar. Um doente não é livre. Horrorizou-me sempre a ideia de que um rico quando rouba é um cleptómano e um pobre é um ladrão… Não tenho nenhuma condescendência para com quem destrói a vida de uma criança servindo-se do seu poder de professor, de padre, ou de pai.
Bento XVI, como sempre fez na sua vida, não podia deixar que pairassem sobre a Igreja casos de criminosos que, varridos para debaixo da carpete, deixavam pairar a suspeição sobre todos. Nada há pior para minar uma instituição do que a generalização da insinuação, da suspeição. Em Boston ou na Irlanda não podem pairar sobre a Igreja Católica dúvidas, nem desculpas, nem insinuações que se colam a todos, pela falta de coragem de agir. Não podem os criminosos ficar debaixo dos tapetes e as vítimas silenciadas pelo tempo que não apaga um crime destes. É isso que o Papa corajosamente tem dito, escrito e feito.
Independentemente do número, Ratzinger não podia deixar de encarar esta questão nem que tivesse apenas a dimensão de uma paróquia, sob pena de permitir que continuassem a minar a credibilidade da Igreja e a suspeição sobre todo aquele que veste uma batina. Para já não falar no perigo de deixar quebrar a confiança dos pais que levam os seus filhos à catequese ou os matriculam nos colégios católicos que em todo o mundo têm marca de competência e qualidade. Foi isso que escreveu em palavras certeiras e precisas aos católicos irlandeses.
Comentários
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Melhores cumprimentos,
Manuel Filipe Santos.