Primavera anunciada pelas flores da olaia
António Bagão Félix
Público, 2015.03.24

A Primavera é, etimologicamente, o primeiro Verão. O melhor Verão – digo eu — porque suave, risonho, doce. Porque, tal como no amor, não há nenhum como o primeiro.
Falar da Primavera é também um bom pretexto para saudar uma das primeiras árvores que lhe faz jus: a olaia (Cercis siliquastrum, L). Sobretudo através das suas exuberantes e papilionáceas flores, que surgem mesmo antes das folhas. Pouco tempo, é certo, mas o suficiente para regalar a nossa vista. De uma inigualável cor carmim, às vezes mais rosada, outras vezes mais violácea, surgem em cachos e em forma lacrimal, num casamento prodigioso com o tronco castanho que lhe dá berço. É que as flores nascem não apenas nos ramos mais fortes, mas também surgem vigorosas numa curiosa floração caulicular.

Nesta inigualável Lisboa, é pena a natureza não nos proporcionar uma simultânea gestação floral da olaia e do mais tardio jacarandá (Jacaranda mimosifolia, D. Don). Mas imagino o que seria juntar a cor floral da olaia com o azul violáceo das panículas trombetadas do jacarandá. E como seria interessante a oferenda cromática de variações reais ou imaginárias entre o azul e o vermelho: roxo, carmim, lilás, violeta, púrpura, magenta e até índigo!
E se a esta policromia juntarmos o aroma penetrante, relaxante, misterioso e delicadamente adocicado da flor do jasmim (Jasminum officinale L) teremos o trio (quase) perfeito da Primavera.
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