O estado engraçado de António Costa

ALBERTO GONÇALVES
DN 2015.03.15

Uma sondagem "dá" ao PS 36,1% das intenções de voto. Nos tempos em que aquilo era liderado por António José Seguro, homem sem "carisma" nem hipótese de "capitalizar" (desculpem a palavra) o descontentamento das massas, o partido andava no limiar da maioria absoluta. Desde então, leia-se Novembro passado, a tendência constante é de queda. O que aconteceu entretanto?
Aconteceu António Costa, a reserva da nação. Durante meses a fio, políticos, economistas, autoproclamados intelectuais e "personalidades" sortidas alimentaram as expectativas em volta das descomunais capacidades governativas do Dr. Costa, até aí escondidas numa autarquia. Mário Soares garantiu que o homem é a esperança de um povo em sofrimento. Manuel Alegre, tipicamente homérico, rogou-lhe que libertasse Portugal. José Sócrates louvou-lhe a coragem. Em representação da indispensável "cultura", um alegado realizador de cinema jurou que o Dr. Costa concilia a tradição com a modernidade, talvez por causa de umas benesses ao Benfica. Etc.
Só faltava encomendar-lhe a canonização em vida. Antes disso, por azar, o novo cargo do Dr. Costa obrigou-o a mostrar em público a sua verdadeira natureza. Falar em desastre é usar um eufemismo. De cada vez que não consegue evitar tomar uma posição acerca de um assunto, o aclamado secretário-geral expõe-se espectacularmente ao ridículo. Ele é a aproximação à extrema-esquerda enquanto tenta convencer o eleitorado do centro. Ele é o entusiasmo com o Syriza enquanto arrisca gravitas europeia. Ele é a retórica da "consciência social" enquanto taxa os carros dos pobres e mal remediados. Ele é o resgate do entulho, perdão, do orgulho socialista enquanto admite ao ouvido de chineses que o socialismo espatifou a economia. Ele é, em suma, a dificuldade em parecer uma alternativa quando de facto não é nada, excepto um desnorte exagerado até para os padrões do partido, da classe política e do país.
Em quatro ou cinco meses, o estado de graça do Dr. Costa transformou-se numa galhofa pegada. Apenas o PS, que o inventou, não se ri. E eu prometo juntar-me ao choro se ele em breve mandar nisto.

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