Voz da Polónia recorda em Lisboa valores euro-atlânticos
JOÃO CARLOS ESPADA Público | 30/03/2015
Sikorsky reafirmou as suas convicções europeístas e atlantistas.
Passou injustamente despercebida entre nós a visita do Presidente do Parlamento polaco a Portugal, na semana passada. Na Europa central e de Leste, bem como no Reino Unido ou na Alemanha, Radek Sikorsky é uma figura reconhecida pelo grande público, frequentemente ouvido pelos jornais de referência. Entre nós, acaba de receber um doutoramento Honoris Causa pela Universidade Nova de Lisboa. Foi uma oportuna ocasião para reafirmar os valores europeístas e atlantistas que há muito distinguem Sikorsky e a sua Polónia natal.
Isso mesmo foi sublinhado por Nuno Severiano Teixeira, Vice-reitor da Nova, na sua apresentação do laureado. Sikorsky destacou-se como líder estudantil nos anos de 1980-81, quando o movimento Solidarnosc abalou a ditadura comunista na Polónia. A declaração da Lei Marcial por Jaruzelsky, em 1981, levou-o ao exílio no Reino Unido, onde se licenciou na Universidade de Oxford. São conhecidas várias peripécias divertidas da passagem de Sikorsky pelo Canning Club e pelo Bullingdon Club daquela Universidade, onde conheceu David Cameron, actual primeiro-ministro britânico. Em 1987, Sikorsky adquire a cidadania britânica. Será jornalista da Spectator e do Observer, destacando-se em várias reportagens de guerra, designadamente no Afeganistão.
Com o início da transição polaca à democracia, em 1989, Sikorsky regressa à Polónia e vai assumir várias responsabilidades governativas: secretário de Estado da Defesa (1992), secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros (1998-2001), Ministro da Defesa (2006, quando tem de renunciar à cidadania britânica para poder assumir o cargo), Ministro dos Negócios Estrangeiros (2007-2014) e Presidente do Parlamento (desde 2014).
Num breve intervalo, entre 2001 e 2006, vive nos EUA, onde lidera a New Atlantic Initiative, com sede no American Enterprise Institute, uma instituição que visa promover a aliança atlântica entre a Europa e a América. Foi nessa qualidade que participou duas vezes no Estoril Political Forum, uma das quais acompanhado por sua mulher, Anne Applebaum, que lançou no Estoril o seu livro Gulag — um impressionante estudo sobre os campos de concentração soviéticos.
Ao discursar em Lisboa, na passada quarta-feira, Sikorsky reafirmou as suas convicções europeístas e atlantistas, prestando homenagem ao comprometimento de Portugal com os mesmos valores. Citando Edmund Burke e Karl Popper, Sikorsky sugeriu dois pilares desses valores que raramente são citados em conjunto: auto-controlo e liberdade.
Na sua célebre crítica à Revolução Francesa, o liberal Edmund Burke argumentou que não pode haver liberdade duradoura se os povos não souberem assumir voluntariamente limites sobre os seus próprios caprichos e apetites. Por outras palavras, a liberdade entendida como licença acabará por minar a própria liberdade.
Edmund Burke imortalizou esta ideia crucial na célebre passagem, citada por Sikorsky: “Nenhuma sociedade pode existir sem que um poder de controlo sobre a vontade e o apetite exista nalgum lugar; e quanto menos esse poder vier de dentro, tanto mais ele terá de vir de fora.”
Sikorsky recordou então que as nossas sociedades livres distinguem-se das despóticas porque submetem todas as vontades particulares a regras gerais — regras da lei, por oposição ao capricho da vontade dos poderosos, e regras gerais de boa conduta, por oposição ao capricho do apetite de cada um.
Foi esta proposta de convivência civilizada fundada em regras gerais que a União Europeia estendeu às suas vizinhanças a Leste e a Sul. Mas, quando polacos e portugueses olham para Leste e para Sul — quando em conjunto olhamos para Leste e para Sul, sublinhou Sikorsky — o que encontramos é o paradoxo da tolerância enunciado por Karl Popper:
“A tolerância ilimitada conduzirá ao desaparecimento da tolerância. Se estendermos a tolerância ilimitada até aqueles que são intolerantes, se não estivermos preparados para defender uma sociedade tolerante contra os ataques dos intolerantes, então os tolerantes serão destruídos, e a tolerância será destruída com eles.”
Este paradoxo da tolerância enunciado por Popper só pode ser resolvido — argumentou Sikorsky — se as nossas sociedades livres reafirmarem os seus valores e mostrarem que estão decididas a defendê-los. O argumento foi oportunamente retomado por António Rendas, Reitor da Universidade Nova, ao encerrar a sessão:
“Nos nossos dias, a Europa está tão preocupada em adquirir e preservar direitos que está em risco de esquecer como manter valores. As universidades foram, em parte, uma criação da civilização europeia para defender e manter valores.”
Sikorsky reafirmou as suas convicções europeístas e atlantistas.
Passou injustamente despercebida entre nós a visita do Presidente do Parlamento polaco a Portugal, na semana passada. Na Europa central e de Leste, bem como no Reino Unido ou na Alemanha, Radek Sikorsky é uma figura reconhecida pelo grande público, frequentemente ouvido pelos jornais de referência. Entre nós, acaba de receber um doutoramento Honoris Causa pela Universidade Nova de Lisboa. Foi uma oportuna ocasião para reafirmar os valores europeístas e atlantistas que há muito distinguem Sikorsky e a sua Polónia natal.
Isso mesmo foi sublinhado por Nuno Severiano Teixeira, Vice-reitor da Nova, na sua apresentação do laureado. Sikorsky destacou-se como líder estudantil nos anos de 1980-81, quando o movimento Solidarnosc abalou a ditadura comunista na Polónia. A declaração da Lei Marcial por Jaruzelsky, em 1981, levou-o ao exílio no Reino Unido, onde se licenciou na Universidade de Oxford. São conhecidas várias peripécias divertidas da passagem de Sikorsky pelo Canning Club e pelo Bullingdon Club daquela Universidade, onde conheceu David Cameron, actual primeiro-ministro britânico. Em 1987, Sikorsky adquire a cidadania britânica. Será jornalista da Spectator e do Observer, destacando-se em várias reportagens de guerra, designadamente no Afeganistão.
Com o início da transição polaca à democracia, em 1989, Sikorsky regressa à Polónia e vai assumir várias responsabilidades governativas: secretário de Estado da Defesa (1992), secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros (1998-2001), Ministro da Defesa (2006, quando tem de renunciar à cidadania britânica para poder assumir o cargo), Ministro dos Negócios Estrangeiros (2007-2014) e Presidente do Parlamento (desde 2014).
Num breve intervalo, entre 2001 e 2006, vive nos EUA, onde lidera a New Atlantic Initiative, com sede no American Enterprise Institute, uma instituição que visa promover a aliança atlântica entre a Europa e a América. Foi nessa qualidade que participou duas vezes no Estoril Political Forum, uma das quais acompanhado por sua mulher, Anne Applebaum, que lançou no Estoril o seu livro Gulag — um impressionante estudo sobre os campos de concentração soviéticos.
Ao discursar em Lisboa, na passada quarta-feira, Sikorsky reafirmou as suas convicções europeístas e atlantistas, prestando homenagem ao comprometimento de Portugal com os mesmos valores. Citando Edmund Burke e Karl Popper, Sikorsky sugeriu dois pilares desses valores que raramente são citados em conjunto: auto-controlo e liberdade.
Na sua célebre crítica à Revolução Francesa, o liberal Edmund Burke argumentou que não pode haver liberdade duradoura se os povos não souberem assumir voluntariamente limites sobre os seus próprios caprichos e apetites. Por outras palavras, a liberdade entendida como licença acabará por minar a própria liberdade.
Edmund Burke imortalizou esta ideia crucial na célebre passagem, citada por Sikorsky: “Nenhuma sociedade pode existir sem que um poder de controlo sobre a vontade e o apetite exista nalgum lugar; e quanto menos esse poder vier de dentro, tanto mais ele terá de vir de fora.”
Sikorsky recordou então que as nossas sociedades livres distinguem-se das despóticas porque submetem todas as vontades particulares a regras gerais — regras da lei, por oposição ao capricho da vontade dos poderosos, e regras gerais de boa conduta, por oposição ao capricho do apetite de cada um.
Foi esta proposta de convivência civilizada fundada em regras gerais que a União Europeia estendeu às suas vizinhanças a Leste e a Sul. Mas, quando polacos e portugueses olham para Leste e para Sul — quando em conjunto olhamos para Leste e para Sul, sublinhou Sikorsky — o que encontramos é o paradoxo da tolerância enunciado por Karl Popper:
“A tolerância ilimitada conduzirá ao desaparecimento da tolerância. Se estendermos a tolerância ilimitada até aqueles que são intolerantes, se não estivermos preparados para defender uma sociedade tolerante contra os ataques dos intolerantes, então os tolerantes serão destruídos, e a tolerância será destruída com eles.”
Este paradoxo da tolerância enunciado por Popper só pode ser resolvido — argumentou Sikorsky — se as nossas sociedades livres reafirmarem os seus valores e mostrarem que estão decididas a defendê-los. O argumento foi oportunamente retomado por António Rendas, Reitor da Universidade Nova, ao encerrar a sessão:
“Nos nossos dias, a Europa está tão preocupada em adquirir e preservar direitos que está em risco de esquecer como manter valores. As universidades foram, em parte, uma criação da civilização europeia para defender e manter valores.”
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