OS NOSSOS FILHOS
Isilda Pegado | A Voz da Verdade, 2014-02-09
1 – Sempre foi preocupação do Homem "deixar um mundo melhor" para os seus filhos. Os filhos são a nossa continuação, e por isso também para eles desejamos dias melhores. Damos-lhes educação, ajudamo-los a constituir família, a procurar trabalho, a criar os filhos deles e, no fim, se tivermos amealhado alguma coisa, ainda lhes deixamos o "pé-de-meia".
2 – Porém, o mundo, a sociedade, a cultura onde os geramos e criamos é talvez o menos imediato mas o mais determinante da vida. A sociedade é como que uma caixa para onde são "ditadas" orientações (Leis), experiências (modas) e tensões que, uma vez assimilados pelos homens com as suas emoções, razões, afectos, ordens e as muitas instituições (família, Igreja, escola, sindicatos, etc.), acaba por ditar uma "forma de vida".
3 – A nossa sociedade foi muito moldada no século XX pela economia da era industrial, pelas Grandes Guerras, pelo pensamento marxista e Maio de 68 e nos últimos tempos pelo hedonismo e o niilismo (isto é, o homem é ele e a sua vontade).
4 – A escola (obrigatória e ideológica) durante décadas foi dominada pelo pensamento de que à criança não se impõem conteúdos, mas "desperta-se" nela as potencialidades. E por isso o professor deixou de ser a autoridade e passou a ser o "par" mais velho. Como escreveu Scruton "A educação não tem a ver com obediência e estudo mas com auto-expressão e recreação…". "O dever do professor é estar disponível enquanto a criança se exprime, provocando mas não controlando uma resposta. Se alguma coisa correr mal, não pode culpar-se a criança – e ainda menos puni-la. Nem pode culpar-se o professor, uma vez que o seu papel já não é o de iniciador ou guia. O único sujeito de "culpa" é a sociedade, as suas hierarquias, e as "condições de privação" para as quais a escola deve propor remédio. Quando essas abstracções forem responsáveis pelo fracasso, só o Estado pode providenciar a cura"... Temos então "a subsidiação do fracasso e a transferência maciça de recursos daqueles que fazem bom uso deles, para os que o não fazem" (Roger Scruton – "As vantagens do pessimismo", Ed. Quetzal, pág. 55 a 57). Esta "foi", em parte, a escola Portuguesa.
5 – Tal receita parecia querer dar grande auto-estima aos futuros cidadãos, mas, estranhamente, tal não aconteceu! Temos hoje muitos cidadãos com grande dificuldade em encontrar uma actividade onde se realizem. Temos hoje cidadãos a iniciar a vida activa cheios de utopia e ilusão que matam o caminho da verdade e do realismo. Muitas vezes, nós pais, participamos nesta ilusão e utopia, sem sequer nos apercebermos do erro em que caímos. E assim, contribuímos não para um futuro melhor, mas mais difícil e penoso.
6 – Aproxima-se o dia 11 de Fevereiro, em que recordamos 7 anos de um Referendo perdido. Melhor, que contribuiu para que tantas jovens mulheres e homens se tenham "perdido". O aborto é sempre um acto de não liberdade porque tem na sua base um acto de não responsabilidade.
7 – O referendo ao aborto foi ganho por aquela mentalidade de ilusão e de utopia que nega a realidade (mesmo a existência de uma vida humana que se destrói) não por efeito de uma demonstração qualquer, mas porque auto-declara que não existe (bebé).
8 – Ao longo destes 7 anos temos assistido a muitos dramas que resultam deste confronto – "faz/não faz" o aborto – em especial em jovens casais.
Daí muitas vidas abortadas (mais de 100.000), a que acresce a destruição de muitas jovens raparigas e rapazes. Mas também, desse drama, temos visto muitas (e nobres) mães e pais que levam pela frente a sua gravidez e por isso terminam o curso, arranjam emprego e criam o filho ou a filha que lhes foi dado. É tempo de prestar homenagem a todas estas mães e pais que, nestes 7 anos, lutaram contra a "bandeja do aborto" que lhes foi oferecida, quando estavam com muitas dificuldades e, resistiram a ela.
9 – Os nossos filhos, a quem "tudo" damos, precisam de redobrada armadura para se defenderem desta corrosiva ilusão que a todos destrói, precisam de ser cada vez mais heróis de um tempo que mata a responsabilidade e a liberdade.
E, nós pais, continuamos a ter um papel na, e para, a Liberdade dos nossos filhos.
Isilda Pegado
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