4 de Fevereiro - S. João de Brito
São João de Brito
04 de fevereiro, terça-feira
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Vida de São João de Brito
João de Brito, o mais novo de quatro filhos, nasceu na Costa do Castelo (Mouraria), em Lisboa, a 1 de Março de 1647, sendo batizado de urgência nesse mesmo dia, na igreja paroquial de Santo André (hoje sediada na Igreja da Graça).
O pai, Salvador de Brito Pereira, descendente de famílias ilustres, veio de Vila Viçosa como braço direito do Duque de Bragança, o Rei aclamado em 1640, D. João IV. A mãe, D. Brites Pereira, era proveniente de família brasonada de Portalegre. Tinha João dois anos, quando o pai foi nomeado Governador do Rio de Janeiro, ali falecendo poucos meses depois.
Aos nove anos, ao lado de seu irmão Fernão, vai, como pajem, para a Corte de D. João IV e de D. Luísa de Gusmão, sendo educado com o príncipe D. Pedro, futuro rei. No ambiente da corte, não perde a seriedade de espírito e torna-se exemplo de delicadeza e de bondade para todos.
Aos onze anos, adoece gravemente. No meio de grande aflição, a mãe pede a Deus a sua cura, por intermédio de São Francisco Xavier, e promete vestir o menino à maneira jesuíta, durante um ano, no caso de ser atendida – o que veio a acontecer.
Entretanto, vestido como o grande "Apóstolo das Índias" (daí a alcunha de "o apostolinho"), adota também o seu zelo pela evangelização, enquanto frequenta as aulas do Colégio de Santo Antão (atual Hospital de São José).
A perspetiva de um futuro brilhante, que a mãe antevia, e a glória e as facilidades de vida que usufruía na Corte, não o conseguem influenciar e desviar. Assim, em 1662, com 15 anos, pede para entrar no Noviciado da Companhia de Jesus, onde é admitido no dia 17 de Dezembro. Cada vez mais aumentava o desejo de imitar São Francisco Xavier e de ser missionário na Índia.
Talentoso e aplicado, estuda na Universidade de Évora e depois em Coimbra, com as melhores referências. No Colégio de Santo Antão, faz o estágio (magistério).
Em 1668, escreve ao Padre Provincial, expondo o desejo de ir para a Índia... "para corresponder ao chamamento de Xavier... que me restituiu ao corpo a saúde perdida..."
É ordenado sacerdote em 1673, ano em que parte para a Índia. De Goa, passa à Costa de Malabar, onde se procura adaptar aos costumes e ideias das castas mais baixas. É entre os párias, sem direitos, desprezados e desamparados, que o Padre João de Brito exerce a sua ação missionária. Para estar mais perto deles, veste-se como os seus penitentes "pandará-suami", come só vegetais e até muda de nome: "Arula Anândar".
Entretanto, por entre os milhares de conversões e batismos, há também muitos dissabores, prisão, torturas, violências incríveis, num autêntico martírio, causados pelos inimigos da fé cristã. Por isso, o Superior Provincial escolhe-o para vir à Europa, em nome das Missões da Índia, após 14 anos de tão grande dedicação. Vem então a Portugal em 1687.
Visita o rei D. Pedro II, amigo de infância, e é muito festejado, procurando manter a simplicidade de vida que sempre o distinguiu. Por onde passa (Lisboa, Santarém, Coimbra, Porto...), vai falando com tal entusiasmo da sua missão no Maduré que muitos jovens se deixam atrair pelo seu ardor apostólico e querem segui-lo na vida missionária.
Cumprida a sua missão na Europa, quer regressar à Índia, mas o rei opõe-se, inventando mil razões e subterfúgios para o demover da sua intenção. Mas ele consegue finalmente a autorização e, a 8 de Abril de 1690, parte de novo para o seu Maduré.
"Eu quero mais o Céu que a Terra, e mais os matos do Maduré que o Paço de Portugal" – dirá em carta a seu irmão Fernão.
Os brâmanes desencadeiam, em várias povoações, violentas perseguições contra os cristãos e, principalmente, contra o missionário, tendo conseguido obter licença do rei para os prenderem e maltratarem. O Padre João de Brito não se cansa de encorajar e animar os fiéis. Ele próprio é sujeito a injúrias e ofensas corporais, é torturado, sofre a fome, a sede e o cansaço, a ponto de os próprios sacerdotes hindus se compadecerem dele.
No princípio de 1693, acontece o que se temia, pelas muitas e cerradas perseguições feitas ao grande missionário, por continuar a batizar. Preso e insultado, passando fome e sede, assim vive no cárcere, onde confessa a sua fé cristã.
Em carta, escrita do cárcere ao Superior da Missão, na véspera do martírio, explica que o mal de que o acusam é ensinar o Evangelho, concluindo: "Quando a culpa é virtude, o padecer é glória."
No dia 4 de Fevereiro, o rajá entregou-o nas mãos dos algozes. O Santo pede algum tempo para rezar. Em seguida, abraça e perdoa aos algozes, faz o sinal da cruz, e, de mãos postas, inclina a cabeça... à espera do golpe mortal. Cortam-lhe depois os pés e as mãos, acabando por atar o corpo e a cabeça a um poste, para que o seu corpo desapareça durante a noite, comido pelos abutres e pelos animais selvagens.
Hoje, há nesse local, Oriyur, um santuário com três igrejas, dois colégios e duas comunidades religiosas, assinalando o lugar do martírio de João de Brito. "Sangue de mártires é semente de cristãos!" Neste Santuário, está em execução um projeto moderno e dinâmico, fazendo com que corresponda cada mais às solicitações dos cristãos e dos tempos atuais.
A fama de santidade e os milagres operados por intercessão de João de Brito levaram Pio IX a proceder à sua beatificação, em 21 de Agosto de 1853. A 22 de Junho de 1947, Pio XII procedeu à sua canonização, apresentando-o ao mundo como "sacerdote apóstolo, evangelizador e mártir, modelo e intercessor junto de Deus".
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"A culpa de que me acusam vem de ser que ensino a lei de Deus Nosso Senhor, e que de nenhuma maneira hão-de ser adorados os ídolos. Quando a culpa é virtude, o padecer é glória."
Do cárcere de Oriyur, na véspera do martírio,
em carta ao Superior da Missão de Maduré, Padre Lainez.
"Como não lembrar, entre outros, aqui em Lisboa, o exemplo de São João de Brito, jovem lisboeta que, deixando a vida fácil da Corte, partiu para a Índia, a anunciar o Evangelho da Salvação aos mais pobres e desprotegidos, identificando-se com eles e selando a sua fidelidade a Cristo e aos irmãos com o testemunho do martírio?"
João Paulo II,
falando aos jovens em Lisboa (Parque Eduardo VII),
a 14 de Maio de 1982.
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