A verdade entre as mentiras
Ionline, 2014-02-01
No mundo atual, quase todas as informações estão disponíveis... mas misturadas, e tantas vezes contaminadas, em montanhas de ignorância disfarçada de sabedoria.
Hoje é necessário filtrarmos todas as informações que chegam. A nossa felicidade depende da capacidade de distinguir o bem no meio dos males, de encontrarmos o essencial por entre tantas superficialidades. Durante séculos, o conhecimento buscava-se, havia que percorrer longos caminhos e esperar de forma paciente para ter acesso ao valioso. A escassez de fontes e recursos garantia que, na maior parte dos casos, o pouco que existia era de excelente qualidade. Hoje é bem diferente. Há uma produção brutal de informações a partir de fontes de todos os tipos. Há demasiados conteúdos...
Dantes, era necessário sair de casa em busca do importante, hoje, será preciso apenas entreabrir a porta... mas apenas e só no momento certo... sob pena de termos a casa inundada de imundices.
Em poucos anos, passou-se de uma escassez de informações valiosas a uma abundância inimaginável de conteúdos duvidosos.
No mundo atual, quase todas as informações estão disponíveis... mas misturadas, e tantas vezes contaminadas, em montanhas de ignorância disfarçada de sabedoria. Os caminhos errados são sempre muitos.
Havia pouco e agora há muito, mas que não se julgue que as circunstâncias melhoraram... pois apenas se passou de uma forma de pobreza a outra, mais disfarçada. De uma ignorância a outra, mais requintada.
As gerações mais novas vivem num mundo diferente daquele onde os mais velhos cresceram. Estes, mais experientes, também devido ao maior número de erros acumulados, devem agir de forma sábia e urgente a fim de chegarem aos mais novos a tempo de serem referências concretas, faróis, alguém que através do seu exemplo de vida revele o critério com o qual se filtra a verdade de entre as aparências... a chave com a qual se pode decifrar este enigma da incultura abundante.
Sinal dos tempos é que esta tamanha abundância e desjejum revelam que este vício de consumir o que não presta, estas montanhas de tudo, que a cada dia se avolumam, não chegam e nunca serão suficientes... por maiores que se tornem... pois que há, no fundo dos homens de hoje uma fome cada vez mais evidente de... verdade.
Uma das estratégias mais eficazes para a resolução deste problema é algo simples: jejum.
Quando alguém se priva, de forma voluntária, de quase tudo quanto tem por hábito consumir, pouco tarda até compreender que há necessidades de várias ordens. Com um jejum sério, as necessidades mais básicas tornam-se mais evidentes e os bens que as satisfaziam preciosos, ao mesmo tempo que os outros desejos, mais superficiais, se desvanecem e os bens que os satisfaziam perdem o seu encanto.
Cuidado. Jejum absoluto é jejum absoluto. Começar por uma privação seletiva apenas das coisas superficiais pode ter efeitos opostos ao que é pretendido, porque pode resultar na criação de uma necessidade ainda maior de algo que não tem valor, não mostrando a linha que separa o indispensável do acessório. Só alguém privado de tudo compreende o que tem valor de fundo e o que o não tem...
Depois de um jejum sério, por mais breve que seja, passaremos então a uma vida mais regrada e sábia, porque teremos renunciado ao que se revelou não fundamental. Não será um jejum seletivo, antes apenas uma vida boa. Permitindo que os anteriores excessos possam agora chegar sob a forma de dádiva à vida de outros que não têm o essencial.
Hoje, mais do que nunca importa sermos capazes de uma meditação séria das nossas reais necessidades, uma verdadeira educação dos desejos... a fim de erguermos a nossa felicidade e nos constituirmos como uma referência para aqueles a quem queremos instruir, na sublime arte de construir, por entre tantos erros, o caminho certo, que quase sempre é o mais duro, mas o único que dura e vale uma vida inteira!
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