AS PRAXES ACADÉMICAS, O EU E A LIBERDADE


Isilda Pegado, Boletim Salesiano
1 – Nos últimos dias o País confrontou-se com violências várias que, em diferentes Universidades, vão proliferando, a coberto de eventuais praxes académicas. Causticamente, apetece-nos dizer: - sinais dos tempos! - Paciência! É evidente que não o aceitamos, antes pelo contrário, entendemos que esta é mais uma das manifestações de vida em sociedade (agora no meio académico) onde se pretende anular o "eu", cada "eu" que está em formação, e onde a liberdade é só para alguns. Aliás, é sintomático que no início de uma formação académica, estruturante e determinante na personalidade de cada cidadão que por ali passa, se pensa em submeter rapazes e raparigas a práticas que "anulam" o indivíduo.
Dizem-nos que é "preparação para a vida". Será a vida a nulidade do "eu"? Hoje a Universidade prepara para a obediência e submissão a práticas desumanas? Para a obediência cega? Que interesses obscuros estão por detrás desta forma de pensar? Nenhuns ou todos?
2 – As praxes chocam-nos, mas esta é a mentalidade de muitas das orientações sociais, que nos últimos anos nos têm sido vendidas. Tudo a troco de uma "liberdade". Eu faço o que quero do meu corpo. Só se submete à praxe quem quer… Só faz aborto quem quer… Mudo de sexo consoante a minha vontade e orientação…
Mas uma miúda de 18 anos tem de decidir se quer ser praxada ou não? Uma mulher grávida tem de decidir se quer eliminar o seu filho? Um rapaz com problemas do foro psíquico tem de escolher o seu sexo?
O "código e a denominada comissão da praxe" dizem o que é permitido, e estabelecem orientações que integram os actos (irresponsáveis) de quem os executa. Também assim, por exemplo, a "nova lei do divórcio" permite abandonar uma família, sem que isso traga responsabilidade a quem o faz.
3 – A mentalidade do individualismo (selvagem) entrou na nossa sociedade. "Faço o que quero". À excepção das áreas económicas, em que os titulares do crédito estão armados de todas as defesas, no resto, temos a ilusão de que tudo depende da decisão de cada um. Há como que um " optimismo" em que nos embalamos e que nos leva à mais terrível das escravidões – a nulidade do eu.
O miúdo que se submete à praxe é escravo dos tontos que estão à sua frente. A mulher que faz um aborto é escrava do patrão, do companheiro ou até da sua própria ilusão. O indivíduo que se divorcia "porque não dá" é escravo dos seus próprios instintos. A pessoa que muda de sexo é escravo da moda, da lei, e das suas próprias fragilidades.
4 – Tudo isto não acontece por acaso… A educação de um rapaz ou de uma rapariga faz-se de muitas formas e a partir de muitas influências. A escola tem um papel determinante. O tipo de textos que nas aulas de Português, de Inglês ou de Filosofia se leccionam, são inofensivos ou não? E é tão rápida a formação do adulto! Não há tempo para experiências. As engenharias sociais deram sempre mau resultado, são tempos negros da história.
5 – Há uma espécie de "vício do irrealismo" que parte do desejo de riscar a realidade, que anula a razão, o razoável, e cria um conjunto de ilusões complacentes. É uma espécie de "optimismo" como o que animou os soviéticos que acreditavam ter posto a espécie humana no caminho da solução dos problemas dos homens, destruindo todas as instituições sociais (Família, Igreja, escola livre, etc.). Tal "máquina" funcionou durante 70 anos (com a morte de mais de 60 milhões de pessoas) e foi a devastação subsequente que já conhecemos.
A característica que distingue o Homem de todos os outros seres é, de facto, a Liberdade. É o nosso mais precioso bem. Cuidar da liberdade dos homens é também uma tarefa da sociedade e do Estado. Não podemos admitir cidadãos escravos. A lei é fonte de liberdade ou de escravidão. Tudo depende de cada "eu" a que se destina.

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