Próximo, nem longe nem perto de mais
José Luís Nunes Martins | ionline | 2014-02-15
É mesmo muito difícil admirar e promover o bem do nosso irmão, do nosso colega de trabalho, do nosso companheiro... mas é por aí que se começa a mudar o mundo
É-nos sempre mais fácil cuidar de quem não está próximo... tudo se passa como se não tivéssemos obrigação alguma de conquistar e cuidar dos que vivem mesmo aqui, connosco. Como se a nossa família fosse um dado consumado, adquirido e arrumado. Somos capazes de investir horas a animar uma amizade longínqua, ao mesmo tempo que nos saturamos com uma simples pergunta, ou gesto de ternura daquela pessoa com quem estamos todos os dias...
No polo oposto, encontramos relações que se anulam quando estreitam demasiado as distâncias, aniquilando as diferenças que eram a sua riqueza. É essencial que se reconheça ao outro o direito e o dever de ser quem é, de forma independente e autêntica, sem que ninguém nisso interfira.
Não gostamos mesmo nada dos profetas da nossa terra... não é nada fácil nem comum admitirmos que aquela pessoa que está ali, connosco, a cada dia é, na verdade, muito melhor do que nos habituámos a julgá-la. Como se o reconhecimento da sua grandeza nos diminuísse, quando, tantas vezes, o seu talento se deve também a nós... apesar de tudo!
Amar é aproximar. Fazer próximo quem está mais longe. Dar mais espaço a quem esteja demasiado perto. Criar laços de família. Fazer um caminho de vida em paz e harmonia, com quem segue ao nosso lado. Aceitando que haverá sempre cenários que, ao longe, nos parecem muito melhores...
A perda súbita de alguém próximo encerra, muitas vezes, a tragédia adicional de revelar a nossa culpa de não termos sido capazes de fazer o possível pela sua felicidade... só nestes cenários alguns se dão conta da beleza e da bondade de quem ali sempre esteve... investimos tanto tempo em coisas que não têm valor nenhum... roubando-o a quem o merece... privando-nos de ser melhores.
É mesmo muito difícil admirar e promover o bem do nosso irmão, do nosso colega de trabalho, do nosso companheiro... mas é por aí que se começa a mudar o mundo. Criando laços verdadeiros com quem nos é próximo. Entregando o melhor da nossa vontade aos que estão ao alcance da nossa mão.
Devemos prestar atenção às novidades dos que estão connosco, abrindo a nossa inteligência (e o nosso coração) à abundância singular que cada dia traz a cada vida... isto, em vez de nos deixarmos encantar e enganar por pessoas novas que, tantas vezes, pouco mais têm a seu favor do que o nosso desconhecimento da sua verdade...
Sonhamos encontrar alguém extraordinário, chegado de um céu qualquer, que nos dê acesso a uma felicidade sem dificuldades, uma espécie de perfeição pronta a viver. Sonhamos que só assim chegaremos a ser quem somos... quando, na verdade, o nosso valor depende do que formos capazes de alcançar pela coragem do nosso esforço... a conquista é apenas o primeiro passo da longa, dolorosa e essencial caminhada do amor.
Importa derrubar as barreiras do egoísmo e ultrapassar as distâncias que nos separam dos que estão aqui. Abrir espaço e tempo ao amor.
Talvez nos desconforte que aqueles que nos conhecem, saibam o pior de nós... que não se deixem maravilhar pelas nossas qualidades... mas será que conhecem a nossa capacidade de os amar?
Proximidade não é invasão de intimidade... amar não é amarrar... é deixar ser e admirar. Aperfeiçoar não é moldar à nossa imagem...
Amar é aproximarmo-nos e mantermo-nos próximos... vivermos juntos a aventura de ir dando as mãos e de assim ir crescendo... de mãos dadas. Procurando perdoar mais do que ser perdoado...
É preciso abrigarmo-nos uns aos outros no coração das nossas famílias, por menos normais que sejam... a família é aquela casa onde todas as portas estão todas abertas... onde há sempre respeito, mesmo quando o amor parece impossível
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