Viva o Papa!

Voz da Verdade, 2013.03.17
P. Gonçalo Portocarrero de Almada
São Pedro e o bom serviço dos maus papas*

Desculpem-me a imodéstia mas, já antes da eleição do novo Papa, eu tinha publicamente revelado o seu nome. Foi no passado dia 9 quando, no auditório da Reitoria da Universidade da Madeira, teve lugar, por iniciativa da ACEGE, o lançamento do livro «Auto-de-fé» naquela região autónoma, na presença do Bispo emérito do Funchal e de outras individualidades civis e eclesiásticas. Antes da sessão, uma jornalista quis saber quais eram as minhas expectativas em relação ao próximo Papa.
- Excelentes – disse-lhe – até porque já sei quem é.
- Como?! – perguntou, estupefacta, a entrevistadora local.
- Pois bem, posso-lhe assegurar, de fonte segura, que o próximo Papa será Pedro!
Não sei se a minha simpática interlocutora ficou decepcionada com a resposta, mas creio que é a única possível para um crente que, por razão da sua fé, não pode ter outra. Admito que os pagãos, porque ignorantes da existência e acção do Espírito Santo na Igreja, se entreguem às ocultas ciências da adivinhação e, em consequência, produzam uma quantidade ingente de vaticínios em relação ao resultado de um conclave. Pode ser até que, alguma vez, mais por via de excepção do que por regra, acertem no candidato eleito. Mas seria mais prudente que agissem com a cautela do jogador que, questionado sobre o resultado expectável do encontro a realizar, terá sabiamente afirmado: prognósticos, só no fim do jogo!
Se a ciência humana se revela incompetente para desvendar o futuro, o mesmo já não se pode dizer da fé. Com efeito, basta crer para saber que o Romano Pontífice, qualquer que seja a sua proveniência, a sua raça, a sua idade, o seu temperamento e, até, o seu grau de virtude, é sempre Pedro. Como tal, ele é o vigário de Cristo na terra, o vice-Cristo, como gostava de dizer Santa Catarina de Sena. Por esta razão de peso, para os cristãos é relativamente indiferente a personalidade sobre a qual recai a eleição dos cardeais reunidos em conclave porque, qualquer que seja o eleito, a partir da sua aceitação é o Papa. Sendo, desde esse momento e até ao termo do seu pontificado romano, o representante de Cristo na terra, o instrumento querido pelo Espírito Santo para guiar o povo de Deus, conta com toda a oração e todo o afecto dos fiéis cristãos. Porque, quem quer que antes fosse, agora é, para todos os efeitos, Pedro, aquele sobre o qual o Senhor edifica a sua Igreja.
Mas, não há o perigo de um mau papa? Sim, claro, porque a História da Igreja não ignora alguns bispos de Roma que, embora muito excepcionalmente – a grande maioria dos papas foram mártires e santos – não só não viveram exemplarmente as virtudes cristãs como causaram ainda, deploravelmente, graves escândalos. Contudo, sem branquear a sua enorme responsabilidade pessoal, mesmo esses sumos pontífices prestaram, a seu modo, um relevante serviço à Igreja. Com efeito, que homens bons façam o bem é, por assim dizer, natural, mas que homens menos bons, tendo todo o poder eclesial, nunca tenham desmentido a fé, é muito sobrenatural: não se pode compreender sem reconhecer uma muito providencial protecção divina! Talvez por isso o primeiro Papa, escolhido directamente pelo Senhor, embora tivesse sido antes um Simão hesitante e cobarde, que por três vezes negou o Mestre e a quem Jesus chamou Satanás, depois, enquanto Pedro, foi um papa santo e mártir.
É por isso que o anúncio de um novo Papa é sempre recebido com grande alegria, que o povo da urbe e do orbe festeja com um calorosíssimo aplauso, antes ainda de conhecer a personalidade do eleito. Para todos os efeitos, seja quem for, o Papa é sempre o vigário de Cristo, é Pedro que nos é dado para que nos confirme na fé. Viva o Papa!  

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