A democracia não está em risco
Alexandre Homem Cristo, ionline18 Mar 2013
São cada vez mais os que se refugiam na dramatização para esconder o vazio das ideias. Enganando quem os ouve, tornaram-se parte do problema
Ora, longe de serem uma novidade, estes indicadores são populares junto dos que proclamam a violência como forma legítima de expressão política e antevêem o fim da democracia. As intervenções públicas de vários intocáveis do regime (como Mário Soares, José Gil, Boaventura Sousa Santos e Vasco Lourenço) são disso bons exemplos. Dizem-nos que a solução, para a crise e para a insatisfação popular com o regime, passa por democratizar a democracia - leia-se, renovar a classe política. Mas por mais sonantes que sejam, as suas ideias estão erradas.
Em primeiro, os indicadores acima não fazem de Portugal caso único. Nos países do Sul da Europa, onde as economias são bombas-relógio, os indicadores são semelhantes e, não raramente, piores. É verdade que, nestes países, a crise económica tem provocado uma erosão da confiança nas instituições democráticas. A queda desses indicadores é visível em cada um destes países. Mas nada indicia que será uma queda permanente e não meramente circunstancial (numa relação directa com a crise económica).
Em segundo, nos restantes países europeus, onde os efeitos da crise são mais amenos, os indicadores de satisfação com a democracia não são muito diferentes. Isto relembra-nos que a insatisfação é normal num regime democrático consolidado, na medida em que os cidadãos se tornam cada vez mais exigentes quanto ao funcionamento das instituições. Assim, essa insatisfação não significa, como muitos profetizam, que o regime democrático esteja em risco de ser derrubado. Afinal, mesmo que imperfeito, a democracia ainda é o pior regime à excepção de todos os outros.
Em terceiro, e mais importante, é enganadora a ideia de que a crise portuguesa se resolveria com a alteração dos nossos mecanismos de representação política (sistema eleitoral, por exemplo), de modo a renovar a classe política. Seria bom que assim fosse, porque pelo menos haveria uma saída simples. Não há. Por mais atraente e catártica que seja a ideia de responsabilizar os actuais protagonistas políticos, trocá-los por outros (quem?) não alteraria nada. O défice manter-se-ia elevado. O desemprego manter-se-ia a subir. A austeridade manter-se-ia no nosso horizonte. As decisões difíceis que temos pela frente não desapareceriam.
A situação do país é grave o suficiente para que possamos dispensar os alarmismos. Mas, no debate público, são cada vez mais os que se refugiam na dramatização para esconder o vazio das ideias e ganhar destaque na cacofonia da opinião pública. Alimentam-se do medo e das dificuldades que a crise instalou. Prometem soluções rápidas e indolores. E, enganando quem os ouve, tornaram-se parte do problema.
São cada vez mais os que se refugiam na dramatização para esconder o vazio das ideias. Enganando quem os ouve, tornaram-se parte do problema
Ora, longe de serem uma novidade, estes indicadores são populares junto dos que proclamam a violência como forma legítima de expressão política e antevêem o fim da democracia. As intervenções públicas de vários intocáveis do regime (como Mário Soares, José Gil, Boaventura Sousa Santos e Vasco Lourenço) são disso bons exemplos. Dizem-nos que a solução, para a crise e para a insatisfação popular com o regime, passa por democratizar a democracia - leia-se, renovar a classe política. Mas por mais sonantes que sejam, as suas ideias estão erradas.
Em primeiro, os indicadores acima não fazem de Portugal caso único. Nos países do Sul da Europa, onde as economias são bombas-relógio, os indicadores são semelhantes e, não raramente, piores. É verdade que, nestes países, a crise económica tem provocado uma erosão da confiança nas instituições democráticas. A queda desses indicadores é visível em cada um destes países. Mas nada indicia que será uma queda permanente e não meramente circunstancial (numa relação directa com a crise económica).
Em segundo, nos restantes países europeus, onde os efeitos da crise são mais amenos, os indicadores de satisfação com a democracia não são muito diferentes. Isto relembra-nos que a insatisfação é normal num regime democrático consolidado, na medida em que os cidadãos se tornam cada vez mais exigentes quanto ao funcionamento das instituições. Assim, essa insatisfação não significa, como muitos profetizam, que o regime democrático esteja em risco de ser derrubado. Afinal, mesmo que imperfeito, a democracia ainda é o pior regime à excepção de todos os outros.
Em terceiro, e mais importante, é enganadora a ideia de que a crise portuguesa se resolveria com a alteração dos nossos mecanismos de representação política (sistema eleitoral, por exemplo), de modo a renovar a classe política. Seria bom que assim fosse, porque pelo menos haveria uma saída simples. Não há. Por mais atraente e catártica que seja a ideia de responsabilizar os actuais protagonistas políticos, trocá-los por outros (quem?) não alteraria nada. O défice manter-se-ia elevado. O desemprego manter-se-ia a subir. A austeridade manter-se-ia no nosso horizonte. As decisões difíceis que temos pela frente não desapareceriam.
A situação do país é grave o suficiente para que possamos dispensar os alarmismos. Mas, no debate público, são cada vez mais os que se refugiam na dramatização para esconder o vazio das ideias e ganhar destaque na cacofonia da opinião pública. Alimentam-se do medo e das dificuldades que a crise instalou. Prometem soluções rápidas e indolores. E, enganando quem os ouve, tornaram-se parte do problema.
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