Desapego ao poder
Saragoça da Matta, i.online 15 Mar 2013
Dois grandes exemplos aos políticos que não percebem que servir a coisa pública é altruísmo, não um negócio, não uma 'cosa nostra'."
A nobreza e a dignidade não são herança sanguínea, não resultam dos graus académicos nem das funções desempenhadas. São valores ínsitos a alguns seres humanos. Fruto, certamente, de uma predisposição orgânica que condiciona o intelecto e emoção, mas também, e principalmente, da educação. Não da escolarização, que é coisa outra! Da educação. Do berço. Da matriz. Daquilo que os pais nos conseguem dar, quando o têm para dar. Do que nos ensinam pelo exemplo, quando o podem e conseguem.
Os pais e aqueles a quem devemos chamar mestres: formadores de caracteres, de consciências, de modos de ser e de estar. Mais do que ensinar, formam! Com eles aprendemos, ou não, a enfrentar a adversidade, a comemorar o sucesso, a partilhar o pouco, a distribuir o muito, a respeitar a diferença, a tolerar o próximo e o distante, a compreender adversários e a viver a glória.
No cadinho cultural europeu, esses princípios integraram o catálogo do dever ser ao longo dos últimos milénios. Hoje, tais princípios enformam a nossa legislação e moral pública. Por isso é "contranatura" ver religiosos a pregar a intolerância e agnósticos livres-pensadores a serem anticlericais.
A Igreja Católica é um bom exemplo do rol de intolerâncias e de perseguições a todos os "diferentes" do padrão que ela própria criou. E pródiga, também, nas contradições das acções com os princípios que proclama. Dirão que todas as religiões assim o são! Mas isso tanto dá: não são os pecados das outras religiões e de todas as variantes do cristianismo que desculpam os pecados daqueles que pregam o amor e a fraternidade universal sob o estandarte da Igreja Romana. Tal como queimaram bruxas e hereges, perseguiram agnósticos e tuberculosos, proibiram livros e ordenaram à ciência que se calasse, hoje perseguem outros alvos: as perseguições deixaram de ser "violentas", mas seguem, latentes, a contaminar os espíritos que, sem pensar, se vergam à força das homilias.
Porém, esta mesma Igreja deu no último mês dois grandes exemplos aos políticos que não percebem que servir a coisa pública é altruísmo, não um negócio, não uma "cosa nostra".
Bento XVI, consciente de que as forças necessárias para enfrentar a tormenta lhe faltavam, deixou a função a quem melhor pudesse salvar a Igreja do precipício que está no horizonte.
Francisco I aceitou uma função difícil e com elevadas probabilidades de insucesso... mas aceitou! Sai do conforto de uma reforma em Buenos Aires para a turbulência de uma das cortes mais perigosas da história. Quem aceita tal cálice, provavelmente letal, só pode fazê-lo em nome de algo superior.
Os actos destes dois homens são de extrema nobreza e dignidade. São actos de mestres. Exemplos. Exemplos de desapego ao poder, de consciência do momento da saída e de oferecimento à causa comum. E, como exemplos que são, deviam ser seguidos por todos aqueles que, por toda a parte, vivem da coisa pública. Urbi et Orbi!
Dois grandes exemplos aos políticos que não percebem que servir a coisa pública é altruísmo, não um negócio, não uma 'cosa nostra'."
A nobreza e a dignidade não são herança sanguínea, não resultam dos graus académicos nem das funções desempenhadas. São valores ínsitos a alguns seres humanos. Fruto, certamente, de uma predisposição orgânica que condiciona o intelecto e emoção, mas também, e principalmente, da educação. Não da escolarização, que é coisa outra! Da educação. Do berço. Da matriz. Daquilo que os pais nos conseguem dar, quando o têm para dar. Do que nos ensinam pelo exemplo, quando o podem e conseguem.
Os pais e aqueles a quem devemos chamar mestres: formadores de caracteres, de consciências, de modos de ser e de estar. Mais do que ensinar, formam! Com eles aprendemos, ou não, a enfrentar a adversidade, a comemorar o sucesso, a partilhar o pouco, a distribuir o muito, a respeitar a diferença, a tolerar o próximo e o distante, a compreender adversários e a viver a glória.
No cadinho cultural europeu, esses princípios integraram o catálogo do dever ser ao longo dos últimos milénios. Hoje, tais princípios enformam a nossa legislação e moral pública. Por isso é "contranatura" ver religiosos a pregar a intolerância e agnósticos livres-pensadores a serem anticlericais.
A Igreja Católica é um bom exemplo do rol de intolerâncias e de perseguições a todos os "diferentes" do padrão que ela própria criou. E pródiga, também, nas contradições das acções com os princípios que proclama. Dirão que todas as religiões assim o são! Mas isso tanto dá: não são os pecados das outras religiões e de todas as variantes do cristianismo que desculpam os pecados daqueles que pregam o amor e a fraternidade universal sob o estandarte da Igreja Romana. Tal como queimaram bruxas e hereges, perseguiram agnósticos e tuberculosos, proibiram livros e ordenaram à ciência que se calasse, hoje perseguem outros alvos: as perseguições deixaram de ser "violentas", mas seguem, latentes, a contaminar os espíritos que, sem pensar, se vergam à força das homilias.
Porém, esta mesma Igreja deu no último mês dois grandes exemplos aos políticos que não percebem que servir a coisa pública é altruísmo, não um negócio, não uma "cosa nostra".
Bento XVI, consciente de que as forças necessárias para enfrentar a tormenta lhe faltavam, deixou a função a quem melhor pudesse salvar a Igreja do precipício que está no horizonte.
Francisco I aceitou uma função difícil e com elevadas probabilidades de insucesso... mas aceitou! Sai do conforto de uma reforma em Buenos Aires para a turbulência de uma das cortes mais perigosas da história. Quem aceita tal cálice, provavelmente letal, só pode fazê-lo em nome de algo superior.
Os actos destes dois homens são de extrema nobreza e dignidade. São actos de mestres. Exemplos. Exemplos de desapego ao poder, de consciência do momento da saída e de oferecimento à causa comum. E, como exemplos que são, deviam ser seguidos por todos aqueles que, por toda a parte, vivem da coisa pública. Urbi et Orbi!
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