O caminho não percorrido nunca tem problemas
João Miranda
Blasfémias, 2013-03-19
Tenho lido muitas críticas ao ministro das finanças. Que corta muito, que corta pouco, que não aposta no crescimento, que devia cortar nas gordura, que só sabe fazer contas, que não sabe fazer contas, que não acerta nas previsões, que faz muitas previsões … A maior parte destas criticas não são às opções de ministro das finanças, mas à realidade. A realidade não nos convém.
.Para uma crítica ao ministro das finanças ser minimamente fundamentada tem que considerar em detalhe as dificuldades de partida. Não deve haver muitos exemplos de ministros das finanças que tiveram de lidar com um país que em simultâneo acumula um défice externo insustentável, uma dívida externa elevada, bancos semi-falidos, estado falido e sobredimensionado, um grande sector de bens não transaccionáveis dependente da procura interna. Note-se que o problema não é apenas a falência do Estado. A economia privada perdeu o seu principal cliente e tem que desalavancar e reestruturar-se em simultâneo com o Estado.
.Contrapor ao caminho seguido por Gaspar uma alternativa idealizada e mitificada, não testada, é fácil. Difícil seria implementá-la, contornando as barreiras constitucionais. E qualquer alternativa teria sempre custos de transição. Como disse, não é fácil reestruturar o Estado quando a economia privada está ela própria a desalavancar e não tem capacidade para absorver as pessoas e os recursos transferidos. Para cortar na despesa despedem-se quantas pessoas? É legal? Paga-se subsídio de desemprego? Indemnização? Quanto custa? Quanto tempo demorarão essas pessoas a ser absorvidas por uma economia que está a desalavancar e a reestruturar? Seria necessário despedir 200 mil pessoas a custo zero para evitar um aumento de IRS de 6%. Não reconhecer a existência de custos de transição numa reestruturação do Estado torna muitas das críticas que se fazem a Vitor Gaspar gratuitas e inconsequentes.
Comentários
Por ser assim esperavasse precisamente que o Ministro das Finanças fizesse o trabalho e respondesse a essas questões que refere. Dois anos depois, não só não fez o trabalho - as tais reformas etruturaias - como agora diz que aquilo que sempe disse - o cumprimento do memorando e meesmo para além dele - estava errado. Trata-se de uma desculpa de quem falhou e mais de quem está perdido com o resultado. Intui-se, com a radicalidade que pode ser brutal, mas parece ser real - como é referido e bem na análise em causa - que afinal de contas ou não se percebeu o problema e a solução ou percebeu-se e em algum momento do processo se disse uma mentira.