Uma Igreja que é mesmo Igreja

P. Duarte da Cunha
Voz da Verdade 2011-03-13

Terminou no dia 6 o encontro dos presidentes das Conferências Episcopais do Sudeste europeu. Nove países onde os católicos são uma pequena minoria e que sofrem ainda com imensas dificuldades em parte pelas feridas não totalmente saradas que os regimes comunistas deixaram nas pessoas e na sociedade, mas em parte também pelas tensões políticas que alguns destes países ainda vivem.
Este ano a reunião aconteceu em Chipre. Um pais onde cerca de 30% do território, desde 1974, está ocupado pela Turquia. Um problema que se arrasta há anos e cuja solução teima em não aparecer. São sempre complicadas as questões políticas que envolvem países diferentes com culturas diferentes. Mas quem sofre é o povo simples que se viu em grande parte na necessidade de fugir das suas aldeias, algumas delas transformadas em campos militares.
Pudemos visitar algumas dessas aldeias que antes da ocupação eram centros vivos da Igreja Maronita (católicas, portanto) e faz impressão ver o que significa ter a aldeia de origem ocupada por militares. Foi bastante evidente que a Igreja, mesmo no meio de muitas dificuldades, continua a ser uma presença indispensável.
Por um lado é a Igreja que mantém a memória, a relação com a tradição e com as raízes culturais. Em segundo lugar a Igreja é um factor de unidade e de coesão. Os cristãos sabem que são membros de um mesmo corpo, rezam juntos, ajudam-se reciprocamente, sustentam a esperança. Mas além disso a Igreja nestes países, em que há situações que não podem ser resolvidas sem uma pressão internacional, como aconteceu em Timor leste, mantém a comunidade em relação com o resto do mundo e não deixa que as pessoas fiquem fechadas ou que o resto das pessoas se esqueça dos que sofrem. Em quarto lugar, a Igreja trás aquela força de ajuda que impede o desespero, e isso porque é ainda uma sua característica o apontar para o futuro, para a eternidade, mas também para o que pode acontecer ainda neste mundo. Sem utopias ou sonhos, mas com a esperança que não vem de sermos optimistas, mas de sabermos que Deus é mesmo o Senhor do tempo e nos ama, a Igreja escancara as portas da inteligência para aquilo que ainda não se consegue ver.
Em Chipre, o facto de termos celebrado a missa em Komacri, uma destas aldeias Maronitas da parte ocupada, foi um acontecimento. Dez bispos e vários sacerdotes ali, a mostrar aos que heroicamente aguentam viver rodeado de um exército ocupante que não estão esquecidos, é algo que dá alento. E comove ver a alegria daqueles a quem o sofrimento faz estar centrado no que é verdadeiramente importante.
Como é que a Igreja mantém a relação com a História, reforça a unidade, mantém as relações com o resto do mundo e aponta para o futuro? Mantendo a fé viva. Essa fé que os pais receberam e transmitiram, essa fé que leva a uma relação com Deus que é Pai e nos reúne numa só família, essa fé que vence medos, nos abre aos outros e nos faz ter confiança e esperança. Não são simples sentimentos, mas a experiência de Deus vivo que pode fazer com que haja alegria e coragem, mesmo quando tudo parece levar noutra direcção.
Durante o encontro, além das visitas, houve tempo para se falar da pastoral juvenil. A Jornada Mundial da Juventude em Madrid no próximo mês de Agosto serviu de mote, e o seu tema: ‘Enraizados e edificados em Cristo, e firmes na fé’ (Col 2,7), mostrou quais são os desafios de uma pastoral juvenil que quer ser capaz de mudar uma certa apatia generalizada que se vive no mundo de hoje. Uma nota comum a estes países é, exactamente, o facto de terem uma população jovem. A Igreja, apesar de minoritária, cresce, os jovens aproximam-se da Igreja vendo o amor à verdade e a defesa da razão para se poder conhecer e agir na realidade. Sobretudo os jovens procuram a exigência de uma vida onde se sabe distinguir o bem do mal e querem muito ouvir falar de Deus e encontrá-l’O pessoalmente. Deste modo, se percebe que a força da Igreja está em ser ela mesma. Só assim ela consegue contrariar as ideologias que durante anos, sem nenhuma eficácia, tentaram impor uma sociedade idealizada, violentando a liberdade e a identidade de pessoas e nações inteiras. Quando a Igreja é mesmo Igreja e não apenas uma instituição de apoio social ela ganha uma vitalidade que, como se vê nestes países, tem mesmo a característica de fermento no meio da massa, como Jesus anunciava no Evangelho.

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