Nuclear: nem o apocalipse nem o paraíso

Helena Matos, Público 2011-03-17

O recente desastre nuclear no Japão abalou a imagem de segurança que este tipo de energia conquistara nos últimos anos e que passou em boa parte por mostrar que em sociedades desenvolvidas e democráticas o nuclear é uma opção segura, ou, se se preferir, menos arriscada. Mas não só. O reforço da opção nuclear beneficiou também da histeria em torno do aquecimento global. Recordo que ainda não há muito tempo o nuclear esteve, via lobby da França, quase a conseguir ser considerada uma energia limpa.
Agora descobriu-se que o nuclear afinal continuava a comportar riscos e presumo que passaremos do apocalipse das alterações climáticas para o apocalipse do nuclear.
A turma dos apocalípticos é, como bem se sabe, a pior praga que se pode abater sobre um problema que se quer discutir com seriedade: durante um tempo vivem um determinado assunto em frenesi e depois é como se se desligassem completamente dele. Aconteceu assim com as celuloses, depois com as barragens. Tivemos também a fase do frenesim com o clima - recordo que aquando do tsunami de Dezembro de 2004 no Índico não faltou quem associasse este fenómeno ao aquecimento global - e agora temo que redescubram as centrais nucleares.
Curiosamente, enquanto a tribo do apocalipse andava às voltas com os calores que estariam a perturbar os ursos polares e a senhora Merkel e demais dirigentes do mundo faziam umas viagens para contemplarem comovidos os glaciares que estariam a derreter, vários países começaram a equacionar o prolongamento da vida das suas centrais nucleares. Prolongamento esse que acabou por ser aprovado no meio de um desinteresse quase generalizado sobre o assunto. Um dos países que adoptaram essa política de prolongamento foi a nossa vizinha Espanha. No ano passado foi decidido prolongar a vida útil de algumas centrais espanholas, nomeadamente da de Almaraz II, que está localizada junto da fronteira portuguesa e em cujo processo de refrigeração é usada água de um afluente do Tejo. Perante o que está a suceder na central de Fukushima talvez se perceba que entre a histeria e a indiferença tem de existir um saudável meio-termo e que jamais um primeiro-ministro português pode dizer, como fez José Sócrates em Novembro de 2007, que Portugal "não tinha de ser notificado" de um incidente numa central nuclear espanhola, sobretudo se essa central for, como era o caso, a de Almaraz II.

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