Jovens

DESTAK 04 12 2008 08.25H

João César das Neves

Pobres das crianças que neste Natal forem ver o filme Madagáscar 2, um dos lançamentos mais falados da quadra!

O ritmo alucinante da narração, a catadupa de piadas, profusão de trocadilhos e alusões, cenas entrecortadas, até a simples rapidez de linguagem impedem o público infantil de sequer acompanhar a história.

A pergunta interessante é saber a quem se dirige um desenho animado destes. Os reais destinatários não são crianças, mas a nova classe, hoje dominante, que podemos classificar de infantis retardados. Educados em «overdose» de jogos de computador, SMS, blogues e séries de humor, o grande conjunto de jovens (ou pseudojovens, porque muitos são já adultos) adora estas produções.

É fácil menosprezar tal juventude, mas ela está longe de ser acéfala. Além da destreza física e mental obtida na intensa prática informática, têm forte espírito crítico, iniciativa exploradora, ânsia de inovação. A sua flexibilidade e capacidade de relacionamento com estranhos é notável.

Até têm ideias políticas claras, como se viu no apoio a Obama. Estas virtudes naturalmente vêm juntas aos defeitos correspondentes, como o vício da adrenalina. Mas, vendo bem, esta geração é capaz de ser bastante melhor que a dos pais, que passou a adolescência frente à televisão.

Há quarenta anos os jovens eram «hippies», com flores, LSD e sexo livre. Há vinte dominavam «punks», heroína e sida. Apesar de tudo, as coisas melhoraram um pouco. Hoje quem mais sofre são as crianças, a quem os irmãos mais velhos roubaram os desenhos animados.

João César das Neves naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt

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