A BÉLGICA INVADIU A ALEMANHA!

Henrique Salles da Fonseca, A bem da nação, 2014.10.26

Aproximava-se Clemenceau do fim da vida quando lhe perguntaram algo como:
Na sua opinião, o que dirão no futuro os historiadores sobre esta questão embaraçosa e controversa que foi o início da Grande Guerra?
Ao que o velho «tigre» respondeu:
Sobre isso nada sei mas do que estou certo é que eles não dirão que a Bélgica invadiu a Alemanha.

A questão nasce com a pergunta sobre se existirá algum facto independente da opinião e da interpretação. Realmente, é impossível dissociar os factos históricos das respectivas interpretações uma vez que no princípio do estudo está a extracção de algo que cada intérprete considere relevante dentre um caos de meros acontecimentos sendo que os princípios da escolha não são elementos do facto interpretado.
E aqui começa a confusão com cada intérprete a dizer o que lhe parece, muito provavelmente cada um a definir perspectivas totalmente antagónicas das dos outros e ainda com a agravante de eventualmente nenhum se aproximar do que efectivamente ocorreu.
Não há dúvida de que as ocorrências nem sempre são efectivamente alvo de descrições objectivas e que «quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto» mas seria intolerável que pactuássemos com quem deturpa a matéria factual pois uma coisa é a interpretação, outra o desvirtuamento da realidade. Nada justifica o esbatimento das linhas de demarcação entre o facto, a opinião e a interpretação.
Mesmo admitindo que cada geração tenha o direito de escrever a sua própria história, não se lhe pode outorgar o direito de recompor os factos de harmonia com a sua própria perspectiva atentando contra a própria matéria factual.
E se a perspectiva histórica, longínqua, deve sempre ser respeitadora dos factos objectivos, a interpretação desvirtuante de ocorrências recentes não passa de pura mentira. E é isto que frequentemente ocorre em modernas «ágoras» televisionadas. A liberdade de opinião nada tem a ver com interpretações abusivas que claramente pretendem manipular a opinião pública. Esses, os que por certo subscrevem o título de um livrinho que há dias topei num escaparate e que nem sequer folheei intitulado «A verdade e outras mentiras».
É que a manipulação da opinião consubstancia crime.

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