8 de Agosto - S. Domingos de Gusmão
S. Domingos de Gusmão
Fra Angelico
1437
Têmpera sobre madeira
Altar de Perugia
Galleria Nazionale dell'Umbria
Ainda neste 8 de Agosto, não posso deixar de
recordar que o dia é também de Memória de São Domingos de Gusmão
(1170-1221), fundador da Ordem dos Pregadores e uma das figuras mais
emblemáticas na História da Igreja, iniciador de um carisma que perdura
com especial luminosidade na história do Ocidente desde o século XIII.
Com efeito, S. Domingos de Gusmão deixou-nos como herança um exemplo de
incalculável valor, nomeadamente a de ser, como desde há muito na Igreja
se quis considerado, “humilde ministro da Pregação”. Nas suas longas
vigílias junto ao altar, movido em particular por uma terna devoção a
Nossa Senhora (por alguma razão ele foi também o grande descobridor da
importância de se rezar o Rosário), S. Domingos foi alguém profundamente
consciente da sua condição de agraciado com o dom da Misericórdia de
Deus, aquele mesmo que sempre de novo lhe fez sentir no coração “o
grande preço da nossa Redenção”. Ao fundar a Ordem dos Predicadores, S.
Domingos de Gusmão tem um objectivo muito preciso: a salvação das almas −
a salvação das almas mediante a Pregação alicerçada na Contemplação. A
feliz fórmula do ideal apostólico da vida de S. Domingos e da
Congregação por ele fundada, na formulação de um dos maiores e mais
significativos dominicanos de todos os tempos, S. Tomás de Aquino, é, de
facto, esta: “contemplata aliis tradere”, levar aos outros as coisas
contempladas! Daí a enorme importância que na Ordem dos Pregadores têm
os Estudos, a Vida Litúrgica, a Vida Comunitária, a Pobreza Evangélica.
Homem ousado e prudente, resoluto e respeitador para com os outros e o
seu justo modo de pensar, genial nas suas iniciativas apostólicas e
profundamente obediente à Igreja e às suas directivas apostólicas, S.
Domingos é imagem interpelante, e profundamente actual, da necessidade
que na Igreja temos de Apóstolos livres de comprometimentos que
prejudiquem a eficácia apostólica, mas também livres de esquemas que não
sejam os daquilo que Deus queira para a Sua Igreja nos tempos que, quer
queiramos quer não, são os de agora, “hic et nunc”. O carisma de S.
Domingos bem pode ser, como deveria, apreciado como modelo de inovação
livre de pretensiosismos sem fundamento e, ao mesmo tempo, como modelo
de perseverança e continuidade sem cair nos artifícios e, por vezes,
grandes prejuízos, de tradicionalismos esvaziados de toda a razão e
alicerce bíblico. Como Jesuíta, alegro-me com a Festa de hoje, pois bem
recordo como para mim, faz agora 32 anos, foi importante no momento
crucial da minha escolha e da minha adesão compreender o quanto o
Carisma de Santo Inácio de Loyola integra em sábia e providencial
vizinhança o carisma apostólico que a Igreja sempre reconheceu em S.
Domingos de Gusmão: levar aos Outros a Salvação de Deus; fazer isso de
modo intenso e organizado; anunciar as Misericórdias do Senhor em todos
os âmbitos e esferas do que seja a vida humana, em reconhecimento da
complexidade que a vida tem; fazer isso e, fazendo-o, experimentar, em
si e à sua volta, a Salvação, Obra de Deus em nós. Possa então a
intercessão de S. Domingos de Gusmão dar à Igreja de Jesus Cristo
apóstolos verdadeiramente livres, personalidades que no essencial sejam,
na célebre expressão de Lacordaire, ternos como uma mãe e fortes como
um diamante!
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