Pai da Mafalda fez 80 anos
L'Osservatore Romano
Condensado e adaptado por SNPC
SNPC | 17.08.12
Condensado e adaptado por SNPC
SNPC | 17.08.12
Completou 80 anos – no registo consta 17 de
agosto mas nasceu a 17 de julho – Joaquín Lavado, desenhador argentino,
melhor conhecido como Quino e ainda mais famoso como o criador da
banda desenhada cómica centrada no personagem da terrível menina
Mafalda e dos seus pequenos amigos.
Quino não tem filhos mas a maneira como trata o
universo das crianças mostra uma paternidade profunda e gratuita. As
suas histórias são pequenas apologias para mostrar os desastres do
mundo dos adultos, mas com delicadeza para o mundo da infância! E com
que acutilância.
Diferentemente da banda desenhada norte-americana
Peanuts – Charlie Brown, Linus e amigos – os quadradinhos da Mafalda
não são fechados sobre si próprios: são abertos ao mundo, com os seus
problemas sociais, e permitem a entrada dos adultos.
Quino teve a simplicidade de manter as suas
histórias durante um tempo limitado, entre 1963 e 1973: quando sentiu
que havia esgotado o que tinha a dizer com Mafalda, simplesmente mudou
de género, sem forçar o prolongamento da série.
Há muita sabedoria sobre o mundo da infância nos
seus quadradinhos, de tal modo que algumas histórias podem ser usadas
como manual de vida. Como quando a professora manda declinar os verbos
e, quando chega a vez do futuro de “amar”, a pequena Susanita responde:
“Crianças!”; ou quando Mafalda, ouvindo de sua mãe que nasceu depois
de muitos anos de casamento, grita: "E quem diabo disse que eu podia
esperar?"; ou quando Miguelito se insurge contra as recomendações dos
pais – "Não correr com sapatos novos, não saltar no sofá, não arrastar
pelo chão!" - e conclui: “Para que serve ser criança, se não te deixam
exercitar?”.
Mas Mafalda é também uma contestadora social,
simultaneamente delicada e áspera. Reivindica o papel da mulher na
sociedade; rebela-se contra as imposições sociais – simbolizadas na
história em que é obrigada a comer a sopa – a interferência dos
mercados e das corporações, bem como contra a superficialidade e a
tentação da escalada social.
O que é realmente surpreendente é a delicadeza:
não são adultos em miniatura mas crianças reais, que participam nos
jogos infantis, que discutem, que levam palmadas dos pais; e que têm um
pai e uma mãe que muitas vezes vivem as tensões do seu papel, como
quando os pais de Mafalda se olham aterrorizados porque a sua menina
"já vai à escola!".
Vale a pena os adultos relerem a Mafalda.
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