Lance Armstrong

João Vila-Chã
Facebook post em 2012-08-25
Desde o dia em que morreu Joaquim Agostinho nunca mais me interessei pelo ciclismo; a não ser ainda para "celebrar" alguma corrida de Mercx ou Ocaña. A história de Lance Armstrong, porém, é impressionante, pelo que fico numa posição de ambiguidade. Por um lado, é urgente reconhecer que o doping é uma terrível praga no desporto profissional, uma praga pela qual os patrocinadores e até os simples es
pectadores também têm de reconhecer a sua quota-parte de responsabilidade: querendo sempre mais e só o "melhor", o resultado é a criação de um sistema baseado no engano, na fraude, em suma, no "resultado". A dopagem é um grave atentado não apenas contra as regras do desporto, mas sobretudo contra a saúde corporal dos próprios atletas. Mas também acho que o problema da dopagem tem a sua matriz no ambiente cultural que se vive, pois a raiz do mesmo está no que legitimamente se pode designar por cultura da performance, na imposição cultural de ser capaz de vencer a todo o custo, de querer ser só e apenas o nr. 1. O resultado são vidas/corpos destroçados, ou, como agora no caso de Armstrong, uma fenomenal carreira desportiva com sérios sinais de interrogação. Mas sejamos claros, para o dizer mais uma vez: a dopagem farmacológico tem a sua origem num doping bem mais subtil, aquele que nasce e cresce com a cultura do sucesso a todo o custo, aquele que nasce da rivalidade sem coerência, da fantasia de ser sempre e em tudo o melhor. Dito isto, temos um outro problema, que no caso presente é apenas este: como se explica que as acusações feitas contra Lance Armstrong aconteçam a tal distância do sucedido? Como é possível destroçar a carreira desportiva de alguém baseado em acusações feitas por directos competidores, por adversários, nomeadamente por perdedores? Esta, portanto, a ambiguidade do problema. Armstrong diz estar inocente; se está, isso é o que conta. Inocente, porém, não está o sistema que governa muito boa parte do desporto mundial, mas especialmente o ciclismo. Pessoalmente, sempre achei incrível que um corredor possa vencer a prova ciclística mais dura do mundo em 7 anos consecutivos (ou quase). Agora, ao dar-me conta do que parece ser a “queda” do grande campeão, desejo apenas que o caso possa servir de exemplo e de lição. Entretanto, Lance poderá com toda a justiça continuar a dizer o vencedor que foi: primeiro do cancro que quase o vitimava e, depois, das voltas sem conta do Tour de France. E nós? Pois bem, eu diria apenas a palavra do Evangelho que levou Francisco Xavier, ainda em Paris, à sua conversão: «Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se no processo vier a perder a sua alma?» Afinal, só há um modo de ganhar vitórias que nunca ninguém nos poderá tirar, e é este: ganhar em nós os méritos que são de Cristo!

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