O castelo

Paulo Geraldo
Fonte: A Aldeia, em
http://familia.aaldeia.net/o-castelo/

A família é por natureza um bastião, um castelo, um lugar seguro, um ninho de intimidade.
Os filhos são o nosso maior tesouro.
Antes de os deixarmos sair, queremos saber com quem vão e o que vão fazer. Gostamos de saber que livros andam a ler ou que filme vão ver e, muitas vezes, impedimos que vejam um certo filme ou leiam determinado livro. Ou que andem com um certo género de companhias.
Fazemos bem. Defendemos os nossos. E sabemos perfeitamente, pelo que vamos observando, que há descuidos que saem caros.
Em casa, fechamos as portas e perguntamos quem é antes de abrirmos.
Preservamos a nossa intimidade. Parece-nos que a nossa família tem uma identidade própria, que há nela qualquer coisa que não se deve sujar com o lixo que anda por aí.
E anda por aí muito lixo.
Erguemos paredes não apenas para que o vento não entre em nossa casa.
Por que é que, então, deixamos entrar no nosso lar, no castelo, através da pequena janela da televisão, pessoas a quem não abriríamos a porta se nos tocassem à campainha; e ambientes, ou lugares, aonde nunca nos deslocaríamos, muito menos na companhia dos nossos filhos?
Abrimos a torneira quando precisamos de água e ligamos o aquecedor quando temos frio, mas a televisão lá em casa está sempre a funcionar.
Por vezes devíamos pensar melhor em certos hábitos que temos.
A televisão sempre ligada resolve-nos imensos problemas, dizemos. É extremamente cómodo: os filhos sentam-se ali durante horas seguidas e não nos incomodam.
A verdade é que depois acabam também por não ter lá muito boas notas na escola, ou por apresentar dificuldades no convívio com outras pessoas. Mesmo assim, continuamos com o esquema, pois permite que nos dediquemos sossegadamente às nossas tarefas…
Mas quem foi que nos disse que a principal das nossas tarefas – aquela que devemos fazer com maior sossego – não consiste em estarmos com os nossos filhos?
Os problemas que, mais cedo ou mais tarde, teremos de enfrentar em consequência dessa atitude comodista são, sem dúvida, maiores e mais profundos do que aqueles que a televisão nos resolve no imediato.
Sentar crianças e jovens diante da televisão não é forma de os preparar para a vida. Isto está mais do que estudado e afirmado por todos os peritos. E, mais importante do que isso, confirmado pela experiência.
Se não tivermos preparado os nossos filhos para a vida, teremos fracassado. E pouco importa que tenhamos obtido êxito noutras áreas, porque somos pais e é isso que dá sentido à nossa existência.
Por que é que, de uma vez por todas, não nos decidimos a tomar uma atitude enérgica perante este assunto?
Temos duas soluções.
Uma delas é passarmos a utilizar a televisão com o mesmo critério que usamos para utilizar os outros instrumentos da casa: quando precisamos deles.
Assim, ligaremos a televisão apenas para ver este ou aquele programa determinado, depois de verificarmos a sua conveniência. Depois desligamo-la. Quem é que se lembraria de ter, por exemplo, a máquina de lavar roupa a funcionar durante todo o dia?
A outra solução, mais radical (mas as coisas radicais estão na moda), consiste em deixarmos de ter televisão em casa. É uma boa hipótese para aqueles que não gostam de fazer as coisas a meias, ou que têm dificuldade em seguir com rigor os critérios restritivos que resolveram seguir.
Não seríamos os primeiros a ir por esse caminho.
Soube recentemente (Le Monde Télévision – Paris, 14 de Agosto de 2000) que em França – apesar da abundância de canais televisivos por cabo e por satélite – 3,2% dos jovens dos 2 aos 19 anos crescem em famílias que prescindiram voluntariamente da televisão por opção educativa.
Também no nosso país existem muitas famílias que tomaram essa mesma
opção, embora ela não seja, naturalmente, uma medida popular.
E estão contentíssimos com os frutos dessa escolha.
Nós… por que não?
Controlar a televisão, ou acabar com ela, seria talvez duro, ao princípio. Mas depois começariam a acontecer coisas deliciosas. Como existirem verdadeiras refeições em família, com autêntico diálogo, onde os pequenos contam o que lhes aconteceu na escola e os pais transmitem as tradições familiares e contam coisas dos avós e
histórias antigas (é nesses serões familiares que os filhos aprendem a ficar loucos pelos pais).
Coisas deliciosas como a filha visitar frequentemente a cozinha, para contar à mãe uma passagem do livro que anda a ler (sem T.V. crescerá em flecha o gosto pela leitura).
Como os serões serem passados em alegres jogos que contam com a participação de todos.
Como o filho chamar amiúde o pai à parte e dizer-lhe: “Pai, explica-me lá o que é…” .
Como vermos crescer os filhos fortes e com olhos limpos, com outra substância, com hábitos de trabalho, com outra capacidade de conviver.
Se tomássemos uma posição enérgica perante a televisão, teríamos de passar a dedicar maior atenção aos filhos. Mas o fruto disso seria uma relação muito melhor entre todos os membros da família, um lar mais unido e com outra consistência.
Atrevemo-nos?…


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