A vida e a morte de lados opostos da rua

28-12-2011 17:54 por Domingos Pinto

50 metros entre a vida e a morte. Reportagem de Domingos Pinto
Cerca de meia centena de pessoas participou hoje numa vigília de oração organizada pela Missão Mãos Erguidas, que trabalha no terreno para combater o aborto.
Escassos 50 metros separam a morte da vida.
De um lado, a Clínica dos Arcos, onde todos os dias são feitos 50 abortos, cerca de 6000 por ano. Do outro, a Casa Nazaré, um T0 com um corredor a separar uma pequena cozinha e uma sala onde se reza e onde são acolhidas as futuras mães, mulheres que pouco antes, do outro lado da rua, iam abortar.
Manuel Madureira, da “Missão Mãos Erguidas”, que promove este dia de oração, descreve a afluência à clínica dos Arcos: “Isto é um corrupio, de manhã à noite, várias pessoas a virem fazer abortos. Vêm de todos os pontos do país, inclusive das ilhas, apoiadas pelo próprio Governo. É constante”.
Nada que desanime as duas dezenas de voluntários que integram esta associação de defesa da vida, que já salvou mais de 600 bebés desde que foi criada há cinco anos. Trata-se de um trabalho que inclui, mas vai além, da mera abordagem na rua.
“Dirigimo-nos às pessoas, percebemos que vêm para a clínica e tentamos demovê-las, para que percebam que há outras soluções que não esta. E tentamos oferecer soluções. Muitas vezes falam da necessidade de abortar por falta de meios, falta de emprego. Damos indicações de associações, de locais para pernoitar, soluções a todos os níveis”, explica.
Um esforço nada fácil e uma experiência dura, diz Leonor Ribeiro e Castro. A fundadora da Casa de Nazaré não tem dúvidas de que está instalada na sociedade portuguesa uma cultura de morte.
“É uma experiência muito dura, muito dura. Ver mulheres que entram ali com uma normalidade tremenda. ‘Tem consciência de que vai matar o seu filho?’, perguntamos. Respondem ‘tenho e mato quem quiser’. Estamos mergulhados numa cultura de morte e temos de sair dela rapidamente”, refere Leonor Ribeiro e Castro.
Ainda hoje, recorda, a história repetiu-se: “Abordei uma rapariga que se chamava Maria. E quando lhe perguntei se sabia o que ia acontecer, que tem um bebé, que o coração bate, ela olhou para mim e disse ‘sei’. A indiferença, a brutalidade com que se trata, é impressionante. Isto magoa-nos. Isto dói.”

Três Leonores e uma vida salva
Mas nem todas as histórias acabam mal. Leonor Ribeiro e Castro ajudou a salvar uma outra Leonor.

Natural de São Tomé, Leonor Fernandes conta à Renascença a sua própria história: “Eu tinha consulta marcada, tinha a credencial do Centro de Saúde e ia já abortar. Já tinha os exames todos feitos, só que tinha comido e tinha de estar em jejum. Quando saí, a Leonor Castro foi ao meu encontro e percebi, porque eu não tinha sequer noção de como era feito o aborto. Graças a Deus não fiz. Estou superfeliz, a minha filha tem cinco meses e chama-se Leonor, em homenagem à Leonor Castro”.
Leonor Fernandes, a mãe, passou definitivamente para o “outro lado da rua” e hoje também se dedica a dissuadir quem procura abortar: “Já salvei dois bebés, com a ajuda de Nossa Senhora de Fátima, como é lógico”.
A fundadora da Casa Nazaré diz que agora "é preciso ir mais longe", "mexer na lei" e "fazer um novo referendo": “Quem está aqui está desejoso que venha um novo referendo, para acabar com isto, porque estamos no terreno. Referendo? Bem-vindo! Estamos atrasados cinco anos”.
“As pessoas têm de ir para a rua. A Igreja não é padres e leigos, somos todos. Eu tenho uma esperança muito grande neste ano de 2012. As pessoas vão perceber que é preciso rezar mais. Rezando mais vêm os frutos da oração, vem a vida”, conclui Leonor Ribeiro e Castro.

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