Para o PCP, com muito amor

Henrique Raposo (www.expresso.pt)
8:00 Sexta feira, 30 de dezembro de 2011

Não, o problema não é o PCP dar condolências ao povo norte-coreano pela morte do ditador que mantinha a Coreia do Norte num transe colectivo. O problema está no facto de vivermos num país onde os jornalistas têm medo de associar a palavra "ditador" à palavra "comunismo". Li e ouvi várias referências à morte do "líder" ou "presidente" da Coreia do Norte, e não li ou ouvi referências à morte do ditador do regime mais enlouquecido da galeria comunista. Ao pé daquele sujeito, Fidel Castro é um menino. Comparado com aquele comunismo oriental, o comunismo cubano é um spa tropical. Portanto, se as redacções não conseguem dizer que Kim jong-il era um "ditador", vão dizer o quê quando Castro morrer? Que era um notável líder? Um brilho celeste tristemente bloqueado pela canzoada yankee?
Não, o problema não é o humor involuntário do PCP. O problema é continuarmos a viver numa cultura que ainda não aceita críticas impiedosas ao comunismo, que ainda não aceita a equivalência moral entre comunismo e fascismo. O problema é continuarmos a viver cultura que é completamente estranha à narrativa deste filme de Peter Weir. Sim, a estória (isto é, a espessura das personagens durante a fuga do gulag) não nos agarra, mas a História do filme tem um peso que fala por si. Partindo de uma perspectiva polaca, Rumo à Liberdade diz-nos algo que continua a ser tabu: a II Guerra Mundial começou com uma dupla invasão da Polónia; os alemães invadiram pela esquerda e os soviéticos invadiram pela direita. Os comunistas de Estaline também iniciaram a II Guerra.

Peter Weir relembra na tela algo que Norman Davies já tinha carimbado no papel: a Europa não é sinónimo de Europa ocidental. Os agressores e as vítimas da história europeia não estão apenas na Europa ocidental. A Europa oriental também conta. Devemos, portanto, desenterrar esse pormaior: em 1939, comunistas e fascistas invadiram - ao mesmo tempo e em conluio - a Polónia. A URSS não entrou na II Guerra em 1941, mas sim em 1939. Aliás, a segunda agressão da guerra pertence à URSS: a esquecida invasão da Finlândia, em Novembro de 1939. Depois, enquanto a Alemanha já oferecia os habituais tabefes à França, a URSS anexou os Estados bálticos. Não acreditam? Então inquiram um estónio ou um lituano sobre este assunto, e depois reenviem a resposta ali para o "Avante".


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