KEN/SÓCRATES

João Gonçalves

Ontem pus-me a ver Sócrates no programa da RTP2, do Fernando Alvim, intitulado "5 para a "meia-noite". Aquilo parece que é em directo. Ontem - o Fernando anunciou-o previamente - tinha sido gravado umas horas antes. Aquilo parece que tem perguntas aos convidados. Houve uma, gravada e estúpida, e uns bonecos computorizados a dizer disparates. Sócrates, impecável com uma camisa preta sem gravata, casaco preto e calças de ganga, evidenciou a sua insustentável leveza. Foi buscar Pessoa para falar do amor ("o amor de sua mãe", querendo ele dizer "o menino de sua mãe"), Berlusconi para falar dos fatos (uma repetição da gracinha de 2009 nos gato fedorento: atenção, central, é preciso inovar o "humor" do homem), o PS para falar dos amigos, a dobragem para falar de filmes (maravilhoso lapso freudiano) quando queria dizer legendagem, em suma, um boneco de plástico que articulava duas ou três frases seguidas sem o mais vago interesse ou graça. Disse-se dialogante como poderia ter dito que as calças lhe estavam apertadas. E que leva a oposição - não disse qual -, se ganhar, para o governo. Dado o adiantado da hora, a "central" não deve ter dado muito importância a esta prestação para a "malta nova" de um homem de "geração" (sic). "Sou de uma geração" foi coisa repetida à exaustão. Qualquer imbecil sabe que tipos que apenas vivem no presente, ao minuto e ao segundo, não têm geração, isto é, não possuem uma biografia. Estão, não são ou foram. O seu sucesso também reside nisso, na rasura cibernética da memória. Em certo sentido, Sócrates está de acordo com os tempos e os tempos estão de acordo com ele. Estão bem uns para os outros.

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