Do partido dos reformados ao Movimento Geração à Rasca
Helena Matos, Público, 2011-05-05
Como é óbvio, esta versão jovem do antigo PSN goza de uma extraordinária simpatia mediática, pois não só tudo o que se apresenta como jovem passa imediatamente a "bonito, moderno e original", como os candeeiros do velho anúncio radiofónico, como ainda usa uma linguagem de esquerda, e não de uma esquerda qualquer, mas sim daquela que vive nessa abençoada Terra do Nunca situada algures entre o BE e o PCP e que leva a vida a deitar amarras ao PS, o que é meio caminho andado para gozar de boa imprensa. Por comparação o PSN tinha o problema mediaticamente não despiciendo de até ter dado o seu apoio ao programa de governo de Cavaco Silva em 1991 e por essas e por outras foi num ápice que se viu apelidado de partido dos reformados.
À parte estas questões de estilo, nada mais separa o PSN do M12M: ambos nasceram da convicção de que a idade é um posto. Nos anos 90, Portugal acreditava que o futuro ia ser cada vez melhor e portanto o discurso dito antipolítica baseava-se na defesa dos direitos dos mais velhos, excluídos pela idade do bodo generalizado dos direitos sempre crescentes. Em 2011, os mais novos, ou aqueles que por eles dizem falar, recuperaram as reivindicações dos velhos dos anos 90 e a linguagem ainda mais velha das frentes de esquerda: querem segurança, certezas e um emprego para toda a vida.
Numa sociedade que vive sob o medo da perda, os jovens não se revoltam nem querem viver doutro modo. Envelhecem. Por isso aquilo que há vinte anos se chamava jocosamente partido dos reformados passou a ser sinónimo de juventude. O M12M é a versão 2011 do PSN de 1990.
Dentro de um ou dois anos estes jovens não serão tão jovens assim. Vestir-se-ão ainda como tal. Falarão como tal mas terão (ainda mais) aquele ar de quem não percebeu que os anos passaram. O seu destino poderá repetir o do PSN que começou com 96.096 votantes nas eleições de 1991 e desapareceu sem deixar rasto nas legislativas de 2002. Ou repetir o percurso dos Verdes e tornarem-se numas caixas de ressonância do PCP e do BE sem nunca conseguirem granjear respeitabilidade política. Ou mais provavelmente ainda nem isso conseguirão. Porque a idade não perdoa.
Comentários