Os custos do amor
Público, 2011-05-27 Miguel Esteves Cardoso
Levantei dois dedos. Mal falei, assaltou-me a minha inépcia aritmética. Um a um, fui somando todos os dedos da minha mão: o medo (de perdê-la), a minha dependência de ela e a solidão, repentina e desconhecida, que ela me faz sentir quando se vai embora.
Assim enchi os cinco dedos de uma mão. Mas, antes de avançar para a segunda, ela disse, mais feliz por ser amada do que infeliz por infligir tanto sofrimento escusado, que "afinal não bastam dois dedos", como quem diz que "não sabes contar", mais o choque apaixonado de se dar conta que é a primeira vez que eu conto o meu amor. Como quem não sabe quanto ama - ou sofre.
Só não continuei pela outra mão fora - da solidão para a saudade e daí para a ocupação desnecessária de tempo de alma - pela vergonha de ter dito que eram dois os custos e de ter chegado, de imediato, aos cinco.
Custa muito o amor. Não vale a pena; não é um bom negócio. Mas, como não se pode escolher nem decidir nem pensar nisso, até acaba por ser. Mais se perde em nunca ter ganho.
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