Ética bestial

Pública 2011-02-08 PGonçalo Portocarrero de Almada
Não faz sentido procurar, no reino animal, referências que possam pautar o comportamento humano

Nas suas Memórias do Tempo de Vésperas, o prof. Adriano Moreira conta que era da praxe dos finalistas de Direito uma visita ao Jardim Zoológico, a cuja direcção então presidia o prof. Emídio da Silva. Com picardia universitária, o representante do curso cumprimentava-o nos seguintes termos: "Estando no Jardim Zoológico, não podíamos deixar de visitar o senhor professor!". O mestre, imperturbável, respondia com amável hospitalidade: "Estão em vossa casa!".
A propósito de animais, o The New York Times recentemente noticiou terem sido detectados comportamentos "homossexuais" em 450 espécies zoológicas, entre as quais cita as moscas de esterco e alguns primatas. Muito embora tais atitudes sejam, também no reino animal, absolutamente invulgares, porque a regra é o acasalamento entre machos e fêmeas, não faltou quem quisesse transpor essa excepção para a sexualidade humana, concluindo a "naturalidade" dos comportamentos homossexuais.
A referência a uma eventual "homossexualidade" animal não é inocente, porque indicia uma oculta intenção: a de humanizar os comportamentos animais ou, melhor dizendo, animalizar a sexualidade humana. Assim, a principal referência seria agora a etiologia animal, convertida em padrão do que é genuinamente natural e, por isso, normal, ou seja, norma social e ética universal. Porque o que é natural é bom.
É antiga a ambiguidade neste âmbito. Quando o Bambi chora de dor, o Dumbo é um exemplo de lealdade na amizade e o rei da selva é trespassado pelas setas de Cupido, não é apenas o mundo irracional que é antropomorfizado, mas a condição humana que é reduzida à mera dimensão animal. O que é humanamente natural já não é o racional e social, mas o que é mais imediato e mais instintivo, o que é primário e espontâneo.
Mas, afinal, o que é natural?! Num ser irracional, o instinto é normal, mas não assim na criatura racional. É natural que um cão satisfaça publicamente as suas necessidades fisiológicas, mas já não seria natural que o seu dono procedesse do mesmo modo. É por isso que não é notícia que um cão morda um homem, mas sim o contrário. Natural, no homem, não é apenas nem principalmente o que é inato, mas o que é de acordo com a sua natureza, ou seja, racional. É natural ganir ou ladrar, mas não para um ser humano, para quem não seriam normais tais irracionalidades. Mesmo quando o homem, dada a sua condição corpórea ou "animal", é acometido por alguma irreprimível reacção orgânica, como espirrar, bocejar, ou transpirar, procura racionalizar e socializar essas manifestações físicas, pois uma atitude de total desinibição seria inconveniente e irracional e, portanto, anormal.
A ética não é meramente descritiva do que são as pulsões inatas do indivíduo, mas a racionalização das suas tendências imediatas em ordem ao bem comum: é próprio do ser humano viver de uma forma inteligente a sua atracção sexual, pelo que não faz sentido procurar, no reino animal, referências que possam pautar o comportamento humano. Legitimar o que é instintivo e animal, à conta de que é natural, é renunciar à dignidade da criatura racional e rebaixar o homem à sua condição animal, abdicando do que lhe é próprio e específico, ou seja, a sua dimensão intelectual e espiritual.
Todos os seres humanos, quaisquer que sejam as suas tendências ou opções, merecem todo o respeito devido à sua dignidade, mas isso não implica a legitimação de todos os seus actos. Um documentário sobre bisontes rematava com a seguinte "moral": o homem tem muito a aprender com estes animais! Não me senti minimamente aludido, não sei se por não me seduzirem as manadas. Mas há quem ache consoladora a analogia entre certos comportamentos humanos e as práticas sexuais de algumas moscas e macacos que, segundo a referida fonte, têm, por via de excepção, relacionamentos íntimos com animais do seu mesmo género. Convenhamos que, se esse é o paradigma da sua moralidade, essa ética é mesmo... bestial. Licenciado em Direito e doutorado em Filosofia. Vice-presidente da Confederação Nacional das Associações de Família (CNAF)

Comentários

Anónimo disse…
muito bem escrito precisava ser mais divulgado
Francisco Melo disse…
É sempre bom ler o padre Gonçalo Portocarrero de Almada, no meio das opiniões absurdas apresentadas como estudo científico.
Acho fantástico e inacreditável a "honestidade" "científica" de semelhante estudo tão "sério" para se tirar conclusões tão incríveis sobre sexualidade. Em primeiro lugar, devemos nos recordar que a cultura da morte mente à farta e à descarada para provar - e até demonstrar - que o irreal é real e que a mentira é verdade. Não nos esqueçamos dessa experiência histórica, cheia de gafes «científicas», que cresceram assustadoramente, diante duma ciência atónita, quando se pretendeu negar DEUS e a realidade invisivel (cientificamente..., o que mostra a ignorância sobre DEUS (a ciência não pode demonstrar nada sobre DEUS, só descobrir as maravilhas da CRIAÇÃO)). Não nos esqueçamos de certos estudos e conclusões científicas e/ou estatísticas do passado...


Mas estamos, então, e sempre afinal, usando uma novidade, nos estudos científicos, nos tempos da cultura da morte: agora não temos só o raciocínio dedutivo e o raciocínio indutivo para chegarmos a conclusões. Temos o princípio, que ainda não tem nome, de se observar que existem excepções - e que não passam de desvios de natureza (tal como o homem também pode tê-los e de modo mais grave, por ser uma criatura inteligente) -, logo se pode concluir. Uma vez observadas essas excepções, que, se não se trata de mais uma mentira, como houve tantas no passado (tantas «gafes» científicas: quando surgiram, a mídia, em alvoroço, as apresentou; quando se descobriu a gafe, fez-se silêncio... (ou a liberdade de expressão de pensamento ficou silenciada, uma coisa ou outra ou ambas as coisas)), basta observar excepções - que, nestes casos, são desvios ("doenças") -, já se pode tirar uma conclusão.


Quando se nega CRISTO, o salvador da humanidade, o anti-natural se torna natural, embora, notemos bem, o povo não quer nada com isso. As coisas fraturantes, por exemplo, foram impostas em Portugal, contra a vontade do povo português. Nem houve pesquisas de opinião a sair na TV, porque não convinham. Daqui, também se vê o tipo de «democracia», na política (que não liga para o povo), e o de tipo de liberdade de expressão pensamento na mídia, que abafou as pesquisas de opinião. Procuram notícias, e até tinham uma bem relevante, já que estamos em Portugal, no dia 7 de Fevereiro, onde podiam lembrar ao povo as cinco chagas de CRISTO presente na bandeira nacional, mas foi só silêncio.

CONTINUA...
Francisco Melo disse…
CONTINUAÇÃO
Mas, como disse, quando se nega CRISTO (só os ignorantes de DEUS atacam CRISTO, como está na SAGRADA ESCRITURA), cumpre-se esta PALAVRA abaixo:
A ira de DEUS, vinda do CÉU, revela-se contra toda a impiedade e injustiça dos homens que, com a injustiça, reprimem a verdade. Porquanto, o que de DEUS se pode conhecer está à vista deles, já que DEUS lho manifestou. Com efeito, o que é invisível n'ELE - o Seu eterno poder e divindade - tornou-se visível à inteligência, desde a CRIAÇÃO do mundo, nas suas obras. Por isso, não se podem desculpar. Pois, tendo conhecido a DEUS, não O glorificaram nem LHE deram graças, como a DEUS é devido. Pelo contrário: tornaram-se vazios nos seus pensamentos e obscureceu-se o seu coração insensato.
Afirmando-se como sábios, tornaram-se loucos e trocaram a GLÓRIA DO DEUS incorruptível por figuras representativas do homem corruptível, de aves, de quadrúpedes e de répteis. (Ídolos! Em todos os tempos existem os seus ídolos em função do seu tempo) Por isso é que DEUS, de acordo com os apetites dos seus corações, os entregou à impureza, de tal modo que os seus próprios corpos se degradaram. («DEUS os entregou», isto é, respeitou os seus desejos iníquos. DEUS respeita a nossa liberdade) Foram esses que trocaram a verdade de DEUS pela mentira, e que veneraram as criaturas (ciência, dinheiro, sexo doentio, tecnologia, Estado (ateu e contra o direito), etc) e lhes prestaram culto, em vez de o fazerem ao CRIADOR, que é bendito pelos séculos! Ámen.
Foi por isso que DEUS os entregou a paixões degradantes. Assim, as suas mulheres trocaram as relações naturais por outras que são contra a natureza. E o mesmo acontece com os homens: deixando as relações naturais com a mulher, inflamaram-se em desejos de uns pelos outros, praticando, homens com homens, o que é vergonhoso, e recebendo em si mesmos a paga devida ao seu desregramento. E como não julgaram por bem manter o conhecimento de DEUS, entregou-os DEUS a uma inteligência sem discernimento.
E é assim que fazem o que não devem: estão repletos de toda a espécie de injustiça, perversidade, ambição, maldade; cheios de inveja, homicídios, discórdia, falsidade, malícia; são difamadores, maldizentes, inimigos de DEUS, insolentes, orgulhosos, arrogantes, engenhosos para o mal, rebeldes para com os pais, estúpidos, desleais, inclementes, impiedosos. Esses, muito embora conheçam o veredicto de DEUS - de que são dignos de morte os que tais coisas praticam - não só as fazem, como até aprovam os que as praticam. (Romanos 1,18-32)
As doenças da modernidade são semelhantes às doenças habituais de todos os tempos, quando o homem rejeita CRISTO e os únicos valores que são bons, verdadeiros e reais; possui estas três características, os valores cristãos, e ainda uma quarta característica: são valores que colocam o homem na rota da salvação. Só os valores cristãos têm essas quatro características.

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