Sem saída

JN 2011-02-20 Zita Seabra
O país está num impasse dramático. Numa negação da realidade, o primeiro-ministro aparece fugazmente com uma triste e decadente agenda política com a única preocupação de (ainda) tentar "vender" a imagem de que nada se passa com o país.
Os ministros sumiram e ninguém sabe o que estão a fazer. Suspeita-se apenas. O primeiro-ministro finge, já sem nenhuma imaginação e convicção, que tudo está bem e mostra-se em tristes "reprises" das cenas que outrora eram encenadas com "pompa e circunstância".
Esta semana lançou a primeira pedra de uma barragem e fez uns quantos discursos sem nexo e aos gritos. Certamente que lamenta que já ninguém visite Portugal e permita regressar ao brilho de uma fotografia ao lado de. Nem mesmo Hugo Chávez vem e parece que já não liga muito a um pobre país europeu endividado, com Magalhães para vender e à espera de alguma esmola.
Assim, arrastamo-nos numa decadência pesada. Para "animar a malta", o BE acena com uma moção ao serviço de ridículas tácticas. O PC e a CGTP põem, como sempre, os transportes públicos em greve, numas tristes acções de massas, que apenas dificultam mais a vida de quem trabalha. Nem moções nem o futebol conseguem evitar que os portugueses consciencializem o impasse em que estamos neste momento.
Os bancos nacionais cortaram radicalmente os empréstimos às empresas. Pelo seu lado, as empresas sem crédito, sem financiamento, definham, despedem, dispensam e não podem fazer outra coisa.
A dívida continua a ser vendida, ou pior ainda, os juros da dívida estão muito acima dos 7 %, 7,4 %, em valores que não se podem aguentar, não são sustentáveis a curto prazo, dizem os economistas. E o governo vive cada dia como se o objectivo fosse garantir a sua permanência mais um dia. E são tão vagos os sinais de esperança que, de vez em quando, deixa entrar a esperança de que um Euromilhões salve o primeiro-ministro por mais uns meses e a nós do abismo para onde nos levam há anos.
Ao mínimo sinal, saltam foguetes como se de festa se tratasse. Quando foi anunciado que iam reforçar o fundo europeu de ajuda aos países em ruptura financeira, logo cantaram vitória e pensaram, certamente à boa maneira portuguesa: "Estamos safos!". Quando se percebeu que a Alemanha e a França querem medidas concretas debatidas e aprovadas no seguimento de uma cimeira extraordinária dos países do euro, reduziram-se novamente, governo e Comunicação Social afecta, ao silêncio. Tudo se agravou novamente quando, mais explícitos, os alemães explicaram que o Fundo de Ajuda será reforçado, mas em 2013!
Quando, no fim da semana, o ministro alemão das Finanças dá uma entrevista em que novamente insiste que não vão deixar cair um grande país como Espanha, ouço suspiros de alívio, exclamando: "Não nos vão pôr fora do euro!". Mas o ministro alemão, seguido do vice-ministro, dizem mais. Falam mesmo de Portugal e explicam que Portugal tem de fazer o trabalho de casa, tem que proceder às reformas estruturais que lhe permitam sobreviver sem a bancarrota, sem a albanização, agora que a Albânia melhora a sua situação.
Incapaz de enfrentar os problemas, sem coragem para governar, o Governo transmite apenas o sentimento do medo. O medo paralisante do futuro. Com o Estado Social a desmoronar, o Serviço Nacional de Saúde sem financiamento, a dívida a atingir valores nunca vistos (dois terços acima do PIB) e insustentáveis, Portugal parece um cenário decadente de um filme de Fassbinder, uma espécie de «Lola», vivendo da sua velha fama com o esplendor das plumas de há 30 anos.
Ninguém no Governo quer dizer a verdade e ninguém no Governo quer encará-la. Continua-se a pensar que a virtude está na ilusão dos cenários e na verdade se encontra apenas o mau agoiro que traz o azar na vida.
Mas a verdade tem muita força e impõe-se sempre. Estamos à beira de recessão, as empresas sem crédito, o país sem dinheiro e todos os dias o desemprego a aumentar. Todos os dias novos portugueses, jovens ou adultos, perdem o seu posto de trabalho e não encontram esperança em nenhuma primeira pedra que o primeiro-ministro, preenchendo calendário, inaugura.
A esperança virá apenas no dia em que, conscientes da verdade, encarando o país e os seus problemas, se sentem todos a uma mesa, os que devem criar políticas concertadas, e nos retransmitam a confiança que perdemos. Sem isso, sem encarar a verdade, como sublinhou Alexandre Soares dos Santos, rapidamente os sacrifícios pedidos se transformam em sentimentos de revolta, que muitas vezes, sendo legítimos, apenas agravam a situação.

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