Como fugir do Egipto
Público, 20110201 Miguel Esteves Cardoso
Na Tunísia, no Egipto, na Síria, no Iémen, na Coreia do Norte, na maldosamente monárquica Arábia Saudita e em todos os outros países em que os que mandam e mamam são sempre os mesmos, é preciso ter um coração de pedra para não desejar que se lixem todos.
Diz-se que são motins monomaníacos, que apenas querem que o manda-chuva se vá embora. Que não apresentam uma alternativa de governo. Fica-se com medo que outros tiranos, livres das corrupções materiais mas escravos dos mandamentos religiosos, se aproveitem do desgoverno para darem o golpe.
É uma atitude pouco generosa. Na Tunísia e no Egipto luta-se contra a injustiça. Não é preciso ter uma alternativa justa - sequer uma qualquer - para lutar contra a corrupção, que é um sinónimo de injustiça, sistemática. As revoltas contra a injustiça não são democráticas nem levam à democracia. São mais antigas e fáceis de compreender.
Eu até posso não ter nada para dizer, nem grande interesse em ouvir vários pontos de vista e escolher um deles. Mas repugna-me ouvir apenas um - e sempre o mesmo - e presumir-se, mesmo que seja verdade, que não tenho nada a rebater ou acrescentar.
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O'Tornapa