A pen da desgraça
DESTAK | 20 | 10 | 2010 10.29H
José Luís Seixas
No último minuto do prazo Teixeira dos Santos entregou o Orçamento do Estado numa pen. Em Portugal, nem as Finanças dispensam a adrenalina do último minuto. A minúscula pen transitou do bolso do Ministro para as mãos do Presidente da Assembleia. Este segurou-a com incontido receio, não fosse a coisa desfazer-se e esguichar algum líquido abrasivo.
Visualizado o conteúdo, constatou-se que a informação estava incompleta e com erros, coisas menores decorrentes de problemas informáticos que ainda surpreendem este Portugal tecnológico, mesmo quando afectam «o orçamento mais importante dos últimos decénios».
Corrigidos os lapsos, somos confrontados com um violento terramoto fiscal que nos ameaça pecúlios, salários, reformas, enfim, vidas vividas e vidas projectadas. Mas seria expectável epílogo diferente de uma governação que concebe a política como a arte do engano? Dissipadas as ilusões da regularização das contas públicas, do crescimento económico, da modernização da economia, despertamos à beira da ruína. Dizem-nos que este Orçamento assegurará ao País uma sobrevida de meses. Nos cuidados intensivos e a oxigénio. E depois?
Recordando Eça de Queiroz, «se amanhã o país se encontrar na hora da agonia, e se se perguntar aos que pensam, aos que governam, aos que andam com o cérebro aceso alumiando a marcha - se se perguntar: que havemos de fazer?, é possível que eles respondam, e com justiça: Sucumbir».
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