Fundo Bem Comum

Zita Seabra, JN 2010.10.31
Foi lançada esta semana uma iniciativa muito emblemática e exemplar, vinda da sociedade e não do Estado, que merece ser divulgada num país que atravessa um momento dramático e que consciencializou o medo do futuro.
A ACEGE, Associação de Empresários e Gestores Cristãos, lançou o Fundo Bem Comum, um fundo a ser gerido por uma sociedade de capital de risco e que visa promover e apoiar projectos empresariais de desempregados ou pré-reformados com mais de 40 anos.
Em Janeiro deste ano tinha sido constituída uma empresa denominada Fundo Bem Comum, com um capital de 2,5 M euro, estruturada pela Mckinsey e que se tornou possível graças ao apoio e à aposta do Banco Espírito Santo, do Grupo José de Mello, da Caixa Geral de Depósitos, do Grupo Santander e do Montepio Geral. Juntos promoveram a constituição de um fundo de capital de risco, sugestivamente denominado de Fundo Bem Comum, destinado a promover e a financiar projectos de empreendedorismo liderados por quadros qualificados desempregados com mais de 40 anos de idade. Sublinho: desempregados, pré-reformados com mais de 40 anos de idade.
Nas palavras do presidente deste fundo, dr. Nuno Fernandes Thomaz, a iniciativa surge "da perplexidade perante uma das maiores contradições da sociedade actual, qual seja a de ser cada vez maior a expectativa de vida fisiológica de homens e mulheres, e ser cada vez menor a expectativa da sua vida profissional".
Referiu ainda que "se vive hoje cerca de 80 anos e, inexplicavelmente, se alguém for despedido com 40 - nem é preciso mais - certamente terá a maior dificuldade em arranjar novo emprego. Com tudo o que isto significa de dramático em termos pessoais e familiares e, não menos significativo, com o que em termos económicos representa de delapidação de valiosos recursos humanos. E essa é a mensagem principal desta iniciativa: por um lado, impedir que pessoas com tanto para dar à nossa economia sejam desaproveitadas e esquecidas e, por outro, desafiar quantos caiam no desemprego a recusar pôr um ponto final na sua vida profissional".
É certo que se tem assistido a diversas iniciativas de fundos de capitais de risco para suprir as dificuldades de financiamento de novos projectos empresariais, mas que tenha como condição destinar-se a maiores de 40 anos, visando estimular desempregados com experiência profissional a desenvolver projectos empresariais, não conheço mais nenhum.
Para se perceber a inovação do Fundo Bem Comum, sublinho ainda dois aspectos importantes. O primeiro, o facto de experientes membros da ACEGE, empresários e gestores de grande prestígio e sucesso se disponibilizarem, sem custos, para a execução das tarefas de selecção e avaliação das candidaturas e de "coaching" dos promotores e dos projectos. Segundo: a qualidade das parcerias que também graciosamente diversas entidades disponibilizaram, num país habituado a só olhar para o Estado de mão estendida com as consequências que estão à vista. É o caso da MLGTS & Associados na área jurídica, o VER na área da comunicação, a Partners na área da imagem, a KPMG, a Accenture e a Moore Stephens na área da auditoria, a Dynargie na área da formação e cooperação como co-investidor da Inov Capital.
Quando temos a sensação de que tudo se afunda no país, e o desespero e o medo substituem a esperança, há sempre projectos exemplares, pioneiros, que nascem e que rompem caminhos num país desgastado pela falta de valores, onde se vive com a sensação de que se atola no meio da corrupção, dos carros de alta cilindrada, dos comités e das comissões, dos institutos públicos e dos lugares fáceis. O Fundo tem rostos diversos de gente boa. Assinalo quatro nomes: António Pinto Leite, actual presidente, Jorge Líbano Monteiro, secretário-geral, padre Mário Rui Leal Pedras, assistente eclesial, e o ex-presidente João Alberto Pinto Basto, o homem que foi um dos fundadores de um importante Banco - o Banco Alimentar Contra a Fome - e que na ACEGE deixa um notável trabalho. No meio da crise, percebe-se que este país triste e deprimido tem gente boa para a qual vale a pena olhar.

Zita Seabra
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