INSULTOS
DESTAK | 20 | 10 | 2010 20.24H
João César das Neves |
Na Primeira República, existiam algumas coisas muito curiosas. Uma das mais insólitas eram os insultos, aliás herdados directamente da Monarquia que derrubara. É espantosa a quantidade e o calibre dos vitupérios que dominavam a vida política portuguesa dos finais do século XIX e inícios do XX. Comparados connosco, esses nossos antepassados eram muitíssimo mais grosseiros e insolentes.
As próprias palavras usadas soam hoje muito estranhas. Ninguém se lembraria de chamar ao senhor Primeiro-ministro «mariola», «pulha» ou «grande marau», epítetos que eram profusamente utilizados para todos os dignitários da época, com maior frequência quanto mais eminente era o alvo.
Mas pior eram os efeitos desta atitude. Num clima de ultraje permanente é impossível respeitar ou dar-se ao respeito. Não há dúvidas que a rudeza de linguagem da imprensa, discursos, comentadores e conversas era dos piores problemas da época, com graves consequências na vida e desenvolvimento, que resultaram na falência do regime.
Esta lição é útil hoje em dia. A actual crise, junto com alguns escândalos sortidos, está a fazer regressar, sobretudo em blogs e mensagens, um tipo semelhante de linguagem indignada. Muita gente, considerando-se ferida ou incomodada pelo que julga passar-se, acha-se com o direito de divulgar as calúnias e injúrias mais torpes sobre os nossos dirigentes. Não interessa se têm razão ou não. O que importa é que, descendo o nível do debate político, todo o país perde gravemente.
João César das Neves |
Na Primeira República, existiam algumas coisas muito curiosas. Uma das mais insólitas eram os insultos, aliás herdados directamente da Monarquia que derrubara. É espantosa a quantidade e o calibre dos vitupérios que dominavam a vida política portuguesa dos finais do século XIX e inícios do XX. Comparados connosco, esses nossos antepassados eram muitíssimo mais grosseiros e insolentes.
As próprias palavras usadas soam hoje muito estranhas. Ninguém se lembraria de chamar ao senhor Primeiro-ministro «mariola», «pulha» ou «grande marau», epítetos que eram profusamente utilizados para todos os dignitários da época, com maior frequência quanto mais eminente era o alvo.
Mas pior eram os efeitos desta atitude. Num clima de ultraje permanente é impossível respeitar ou dar-se ao respeito. Não há dúvidas que a rudeza de linguagem da imprensa, discursos, comentadores e conversas era dos piores problemas da época, com graves consequências na vida e desenvolvimento, que resultaram na falência do regime.
Esta lição é útil hoje em dia. A actual crise, junto com alguns escândalos sortidos, está a fazer regressar, sobretudo em blogs e mensagens, um tipo semelhante de linguagem indignada. Muita gente, considerando-se ferida ou incomodada pelo que julga passar-se, acha-se com o direito de divulgar as calúnias e injúrias mais torpes sobre os nossos dirigentes. Não interessa se têm razão ou não. O que importa é que, descendo o nível do debate político, todo o país perde gravemente.
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