No início não foi assim
APONTAMENTOS DA SESSÃO DE INÍCIO DE ANO
DE COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO
30-09-2017
- Quero começar com a pergunta
A salvação ainda é interessante para mim?
Diz hoje o Evangelho de S.Lucas: A Salvação entrou nesta casa.
A Salvação é Cristo.
O que muda é que nos demos conta da Sua presença, uma atractividade que nos chama.
A gratidão é expressão de um acontecimento presente.
Podemos passar o dia a fazer coisas muito úteis, mas depois ao fim do dia apercebemo-nos que passou o dia sem nada para Ele. Aí percebemos a dependência de Outro e tudo muda, porque amanhã há um novo começo .
Tu estás em tudo, se canto és Tu que cantas, estás em tudo.
Quando vivemos esta vibração, não podemos deixar que Ele nos deixe, não queremos deixar de depender. Quando a surpresa não domina a nossa vida, o que domina é o formalismo. A Leticia desaparece.
Carta: o meu viver é formal, não tenho Leticia, faço todas as coisas, mas vivo na rotina.
A Salvação não pode não me interessar.
Se o movimento não faz nascer sempre o apelo à Presença de Cristo, torna-se tudo um formalismo. Se não vivemos tudo o que nos é dado como um grito que nos chama para a memória de Cristo, não vivemos nesta Leticia.
Quando a EC se torna experiência e não uma mecanização? Quando se faz uma experiência.
- A Estrada da experiência e da historia
Como pode uma inquietação ser um bem?
Temos que estar atentos às experiências que fazemos, aos sintomas da experiência.
Se não estamos dispostos a reconhecer os sinais da experiência, nem se alguém ressuscitasse eu reconheceria.
Pode haver em nós uma resistência tremenda às provocações da experiência.
Olha para os sinais, para os sintomas!
Se uma pessoa está disponível, olhem o que pode aconteçer...
Ex: conta-nos a Mirel, ao fim de vários anos de casados, parece que o fogo do início desapareceu. As tarefas sobrepõem-se a tudo e são pesadas. Há uma distância...
O que é que se passou? Esquecemo-nos nos da história que nos mexia, do amor a Deus que nos fazia vibrar com tudo, a Origem. Cristo já não é o ponto de partida do quotidiano. Do fogo que vinha de Cristo restam as brasas que podem muito bem tornar-se em cinzas.
Mas Mirel não se lamenta, mas reconhece que o Senhor, na sua genialidade, veio novamente mostrar que está a tomar conta dela.
A descoberta desta falta faz perceber o caminho que temos que voltar a fazer, voltar ao inicio. Os sintomas (falta de alegria, de união) servem para recuperar o início.
Mas como é que foi o início? No início do movimento nós não construíamos como parece que fazemos agora, sobre os valores de Cristo.
- No início não foi assim.
Não é que não construíssemos, mas no início construíamos sobre Cristo! Sobre algo que estava a acontecer e que nos tinha investido.
Parece que nos fixámos numa tradução cultural de Cristo e já não O conhecemos.
A nossa pobreza é infinitamente maior do que aquilo que fazemos, do que aquilo que conhecemos.
O que devemos recuperar é a Razão da Existência, Cristo, como motivo da nossa criatividade. Não falo contra a cultura, mas da cultura que brota do acontecimento.
D. Giussani já nos dizia que o cristianismo não é um pacote ou conjunto de dogmas, de regras e doutrinas, é um Acontecimento.
- Ideologia e Tradição
A diferença entre partir de um acontecimento (tradição) ou de uma certa impressão que temos de um assunto (ideologia). O acontecimento é aquilo que ainda não sei!
O teste para saber se partimos do acontecimento é a novidade que eu surpreendo em mim na relação com os outros, no modo de reagir. Como Jesus: "perdoa-lhes, que não sabem o que fazem".
A primeira intuição de D. Giussani é de recuperar: os cristianismo é um acontecimento, um encontro.
Um acontecimento que é memória atravessada por algo maior para que não cristalize em doutrina. Sem a dependência que faz o acontecimento continuar a acontecer.
Na igreja moderna, a forma de fazer nascer a moralidade não nasceu do acontecimento e a ontologia ficou desvitalizada, como um dente a que se tira o nervo. Só o acontecimento pode gerar vida.
- Tentação iluminista: salvar os valores, desligando-os do acontecimento que lhe dá vida. (Kant é um bom exemplo).
Mas há sangue que escorre agora, há uma Ressureição a acontecer agora. Nada acontece fora deste agora!
Queremos aderir como crianças à Sua proposta.
Ele quer arrombar as nossas portas, porque nós somos feitos d'Ele.
E Ele ou é o Deus dos nossos pensamento ou é o Deus da história.
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