Cancro da mama: a dimensão social

ISILDA PEGADO    OBSERVADOR    26.10.2017





Há uma nova forma de vida (com cancro) que deve ser acolhida socialmente. Não basta que cada um faça por si. Há que perceber que cada vez mais o cancro é uma realidade para largas faixas da população.




1 – O mês de Outubro é, internacionalmente,dedicado ao cancro da mama.
Ao longo deste mês, organizam-se conferências, actos lúdicos, debates e muitos outros factos que chamam a atenção para esta doença que tanto preocupa e ocupa as nossas sociedades.

2 – Longe vai o tempo em que ter cancro era estigmatizante. Hoje convivemos com aquelas que passam por tal doença, com dor e sofrimento, mas de uma forma inclusiva, natural e desdramatizante. Para tanto têm contribuído, em muito, os avanços da medicina que cada vez mais encontra terapêuticas capazes de “curar” e minorar a doença.

3 – Também por todo o mundo têm existido associações, movimentos, ONG’s ou simples grupos de voluntários que trabalham em prol deste apoio social e pessoal às doentes. Desde o apoio emocional, ao estético, do apoio logístico (alojamento junto dos centros hospitalares) ao psicológico, desde o apoio científico ao mecenato nos diferentes campos, há um mar de louváveis trabalhos. Em Portugal o voluntariado é uma riqueza.

4 – Liga Portuguesa contra o Cancro é talvez a mais emblemática de todas as organizações em Portugal. Mas muitas outras giram em seu redor ou são independentes da Liga.
Uma dessas organizações é a Europa Donnacriada em Itália há 23 anos rapidamente se espalhou por mais de 47 países. Tem como missão a defesa dos direitos das mulheres com cancro da mama. Defesa essa que é feita perante os poderes políticos e sociais de cada país ou em organizações internacionais (U.E.).

5 – Várias têm sido as áreas abrangidas por esta Defesa, como sejam a implementação do rastreio da mama com carácter universal e de qualidade. A defesa da criação e funcionamento de unidades pluridisciplinares para os tratamentos. A aposta nosmeios preventivos, nomeadamente através de uma cultura que traga bons hábitos alimentares, a prática do desporto, o combate à obesidade e aos consumos de tabaco e álcool. Neste sentido advoga-se não só que essa qualidade de hábitos de vida pode prevenir o aparecimento do cancro como também, e caso este venha a surgir, os bons hábitos tornam o corpo mais apto a receber os tratamentos.

6 – Também assim, se tem advogado que a doença não define a pessoa. Como ainda há bem poucos dias se dizia num colóquio, e na primeira pessoa: “Eu tenho cancro, mas o cancro não me tem a mim”. É da força destes testemunhos que brota em cada circunstância cada vez mais esperança para as mulheres.

7 – Muito mais há a fazer, nomeadamente na legislação laboral e social. Já todos assistimos às dificuldades paralelas que surgem quando se detectaa doença, no trabalho, nos projectos em mãos, na gestão da vida doméstica, com os filhos que estão dependentes da mãe, etc., etc. Tudo se altera e sofre.
Hoje fala-se mesmo na ruptura dos papéis familiares, sociais, da vida profissional e emocional. Como ajudar e apoiar estes sofrimentos e dificuldades?
Poderá e deverá pensar-se, e levar a letra da lei, uma discriminação positiva das portadoras de cancro da mama?

8 – Cremos bem que não só será da maiselementar justiça, como também, a seu tempo, dará frutos de grande utilidade com melhor e maior recuperação.
Há uma nova forma de vida (com cancro) que tem de ser acolhida socialmente. Não basta que cada um faça por si. Tenhamos consciência cívica e política de que cada vez mais o cancro é uma realidade para largas faixas da população. Há já quem fale no cancro como “uma nova epidemia”. As respostas sociais urgem.

Em Lubliana, nos próximos dias 28 e 29, a Europa Donna fará o seu Encontro Europeu Anualcom o tema – “From Policy to best Practice” (Dapolítica às boas práticas). Lá estaremos, com esperança.

Isilda Pegado 
Europa Donna (Representante Nacional)
Liga Portuguesa contra o Cancro

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