Fogo posto não é terrorismo?

Concordo com os que dizem que a vida humana não tem preço, mas parece que há alguns dos nossos políticos que seguem o princípio estalinista de que a morte de mais do que uma pessoa é mera estatística.
Quantas mais pessoas terão de morrer e quantos mais milhares de hectares terão de arder para que o fogo posto seja equiparado a terrorismo contra todos nós? Podem ser diferentes as justificações de um suicida islâmico e de um ateador de incêndios, mas o resultado é exactamente o mesmo: a criação de insegurança na sociedade.
Concordo com os que dizem que a vida humana não tem preço, mas parece que há alguns dos nossos dirigentes políticos que seguem o princípio estalinista de que a morte de mais do que uma pessoa é mera estatística.
Não há lugar onde não se fale de incêndios, mas o certo é que continuamos a ver o país a arder e pessoas a morrerem. Começam-se a realizar investigações, inquéritos e outras coisas que tal, já chegamos a Outubro e continuamos à espera de conclusões sérias e verdadeiras.
Jorge Gomes, secretário de Estado da Administração Interna, disse que têm de ser as pessoas a combater os fogos e “não podemos ficar à espera dos bombeiros e dos aviões”. Incrível, mas é verdade: este senhor ainda continua a ocupar um cargo vital para a nossa segurança mesmo depois de pronunciar barbaridades destas.
Nós, portugueses, pagamos impostos ao Estado (e ai de nós se nos atrasamos!) para que ele cumpra uma das suas funções vitais: a protecção dos cidadãos, mas, afinal, Jorge Gomes vem-nos dizer que não é assim. Eu vou continuar a desembolsar regularmente para o pagamento de impostos, mas tenho de tratar da minha própria “auto-protecção”! Bom negócio.
Este negócio implica também que sejam os cidadãos a andar atrás dos pirómanos ou a combater a corrupção em torno dos incêndios, a descobrir os diplomas marados, passados por institutos politécnicos públicos a dirigentes da protecção civil?
Se assim é, tenho uma proposta concreta a fazer, pode parecer extravagante, mas o resultado será claramente positivo. Pegue-se nos pirómanos e, durante a época dos incêndios, instalemo-los em vários hotéis de cinco estrelas com programas especiais de reabilitação. Se o problema estiver nos pirómanos, o dinheiro que iremos poupar no combate aos incêndios será mais do que o gasto com as despesas hoteleiras, mesmo que todos os dias aí sejam servidos caviar e champagne.
Mas, como é sabido, o problema é muito mais amplo e mais sério. Primeiro, não se trata de um problema da direita ou da esquerda, mas de um assunto nacional que exige coragem para o resolver. Será preciso um apuramento cabal das responsabilidades e a tomada de medidas para que a praga dos incêndios não se repita.
O ordenamento florestal e outras medidas científicas de prevenção dos incêndios só serão eficazes se forem realizados por técnicos competentes, com diplomas verdadeiros e não fabricados à pressão; se a corrupção for combatida, se nos explicarem até ao fim a “epopeia” da aquisição dos helicópteros Kamov à Rússia e as falhas nas comunicações.
E é evidente que é necessário rever as leis de forma a travar a praga dos incêndios, nomeadamente no que diz respeito às penas para os responsáveis de ateamentos. Este crime deve ser equiparado ao terrorismo, pois já se perderam mais de 60 vidas em menos de um ano. Podem ser diferentes os objectivos de um suicida islâmico e de um ateador de incêndios, mas o resultado é exactamente o mesmo: a morte de inocentes e a criação de insegurança na sociedade.
Esta questão é tanto mais importante quando vemos que a alteração do clima não é um fenómeno passageiro, mas uma realidade para a qual devemos estar preparados. Diz o povo que só nos lembramos de Santa Bárbara quando começa a trovejar, mas, neste caso, o ribombar dos trovões começou há muito.
Mais uma proposta: os fundos que são conseguidos através de concertos e de outras acções de solidariedade devem ser totalmente canalizados para os cidadãos atingidos para que possam auto-protegerem e para as instituições que realmente combatem o fogo: bombeiros.
P.S. Dirigentes políticos de todos os sectores democráticos, não estendam o tapete vermelho para o desfile de extremistas. Não continuem a abusar da paciência das pessoas. Há um século atrás, a experiência acabou muito mal na Rússia. Cuidado!
JOSÉ MILHAZES   OBSERVADOR    16.10.2017http://observador.pt/opiniao/fogo-posto-nao-e-terrorismo/




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