Quando as prisões são sucursais do Intendente

Isabel Stilwell, DESTAK
24 06 2008 22.33H
Os números revelados no texto aqui ao lado provocam um nó na garganta. Cada um destes reclusos quer o queiramos admitir, quer não, podia ser um dos nossos irmãos, um dos nossos filhos. Embora esteja detido por um crime concreto, com uma pena estipulada, na realidade sabemos que para a maioria a prisão é perpétua: presos atrás de grades, ou presos à dependência, até que a morte os liberte. São miúdos, com baixa escolaridade, e o que mais indigna é que continuam a praticar a ofensa que os levou até ali, com o beneplácito do Estado.
Se a ASAE consegue descobrir um pão saloio fora da validade, e apreende camisolas de contrafação, como é que é possível que a droga continue a entrar e a circular com esta facilidade nas prisões, como se fossem sucursais do Intendente? Diz a má língua que só acontece com o conluio de muitos guardas-prisionais, mas não há provas, e não serão certamente os prisioneiros a testemunhar contra eles. Quanto aos colegas, entende-se a dificuldade de encontrar a coragem para a denúncia.
É evidente que a prevenção a sério tem que começar cá fora, e logo no Jardim de Infância, para que no momento da escolha, aos 12 ou 13 anos, saibam optar pela sua saúde, como defende a equipa de Luís Patrício, especialista que toda a sua vida trabalhou na área da toxicodependência. É evidente que muitos chegam à prisão porque num ambiente de pobreza e carências, traficar droga é a via para uma vida mais fácil. Mas chegados à prisão, são necessárias mais respostas. Não nos podemos conformar a torná-las depósitos de drogados.
O projecto das Alas Livres de Droga já são um sinal de esperança. Aliciando ao tratamento com metadona, através de estímulos e privilégios só possíveis neste «programa», rigorosamente fiscalizado, e em que um único consumo dá direito a regressar às alas normais, têm conseguido resultados positivos. Este estudo termina, também, com uma nota de optimismo, ao revelar a existência de mais directores prisionais formados e especializados nas áreas sociais e da reabilitação. É caso para dizer: deixem-lhos trabalhar!
Isabel Stilwell editorial@destak.pt

Comentários

Sónia Monteiro disse…
A incoerência revela-se quando está a ser discutida a possibilidade de ceder seringas aos reclusos nas prisões portuguesas ... Em vez de se resolver o problema, conformam-se e procuram atenuar o problema.

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