Irlanda

João César das Neves, Destak
26 06 2008 09.19H
«Que grande lata tem a Irlanda? Não é que, no referendo de dia 12, votando 1621 mil pessoas de um eleitorado de 3051 mil, uns meros 862 mil votos, com vantagem de menos de 110 mil votos, pretendem matar um tratado tão longamente negociado? Como se atreve um punhado de extremistas contrariar a opinião unânime de 495 milhões de europeus, ansiosos por terem o Tratado de Lisboa a funcionar?» Esta é a posição que, em várias formas, os líderes europeus têm veiculado estes dias. Atrevendo-se a votar «não» a Irlanda arranjou um grande problema, e tem de o resolver.
De facto, o único problema que existe é a incrível cegueira desses líderes que, fechados num mundo de ficção, se recusam a entender a realidade. Ninguém na Europa aprova o Tratado de Lisboa, até porque ninguém o entende. A Irlanda foi única a dizer «não», simplesmente porque foi a única que teve oportunidade de o fazer. Porque outros 10 governos, que prometeram referendos à Constituição em 2005, agora recusam-nos fingindo que o novo texto é completamente diferente.
Os dirigentes não parecem dar-se conta que o ridículo mata. Será que acreditam que, disfarçando o embaraço e correndo depressa, tudo se esquece e fica bem? Infelizmente a Europa é um assunto muito importante e esta monstruosa tolice vai criar grandes estragos na nossa vida real. Quando daqui a muitos anos se fizer o relato do notável projecto europeu, uma das mais ambiciosas iniciativas políticas da história, ficará clara esta espantosa incompe-tência dos actuais líderes e as suas tristes consequências.
João César das Neves naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt

Comentários

Anónimo disse…
"If you don’t know, vote ‘no’"
Foi com base em apelos como este, que votaram muitos irlandeses.
Como sabe, é um apelo que incentiva imenso as pessoas a informarem-se antes de decidir!

Aconselharia os portugueses a seguirem este modelo?

Considera eticamente aceitável apelar à ignorância como fundamento para uma decisão?

Parece-lhe que as pessoas culturalmente pobres não devem ter direito à educação, à informação e à tomada de decisões fundamentadas em argumentos racionais?

Aplicaria a si próprio essa máxima?

Aceitaria que uma decisão sobre a sua vida fosse tomada por 10 milhões de indivíduos com base no apelo:
"Se não percebes nada do assunto, vota contra!"

Desculpe, mas não acredito.
Ora portanto como penso que é adepto da ideia "faz aos outros o que gostarias que te fizéssem a ti..."

Só pode ter escrito este texto como brincadeira provocatória, não é?

Maria Teresa Salgado de Albuquerque

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