Mudanças na América, João Carlos Espada, Expresso, 080426
Mudanças na América
jcespada@netcabo.pt
Talvez a grande notícia desta semana tenha vindo das reacções maciças contra as declarações do senador Obama acerca da vida nas pequenas cidades americanas
Talvez a grande notícia desta semana não tenha sido a vitória da senadora Clinton na Pensilvânia. Só o futuro dirá se estas foram boas notícias para os democratas ou se não terão sido melhores notícias para os republicanos. O senador McCain continua a somar pontos nas sondagens.
Talvez a grande notícia, como observou Daniel Henninger no ‘Wall Street Journal’, tenha vindo das reacções maciças contra as declarações do senador Obama acerca da vida nas pequenas cidades americanas. Ele tinha dito, a uma audiência de esquerda em S. Francisco, que a perda de empregos gerava amargura e levava os trabalhadores a virarem-se para a religião. Os protestos soaram por toda a América, começando pela senadora Clinton.
“A fé - explicou Hillary Clinton - é tudo o que dá sentido à vida e ao seu propósito como seres humanos... Nós queremos que a religião esteja na praça pública. Uma pessoa de fé tem o direito e até a obrigação de falar do ponto de vista da sua fé”.
Não menos surpreendente foi a reacção autocrítica do senador Obama: “A religião é um baluarte... Eu tenho defendido, não apenas nesta campanha, que os democratas têm de ligar a fé ao trabalho que fazemos... Há uma dimensão moral no aborto que nós, que somos a favor da escolha, não temos referido ou temos tentado ignorar. Penso que isso é um erro”.
Longe vão os tempos de 1992. Na convenção republicana, George Bush (pai), Dan Quayle e Pat Buchanan fizeram discursos inflamados sobre a decadência cultural da América. Apelaram aos valores culturais, à presença da religião na praça pública, à defesa da família e ao recuo da intervenção governamental. Os analistas correram a denunciar o fundamentalismo dos republicanos - e esse foi o mote que ecoou pela Europa (até ao dia de hoje e, seguramente, de amanhã).
Em 2004, após a retumbante reeleição de George W. Bush (filho), as sondagens à saída das urnas revelaram que os “valores morais” eram a preocupação central da maioria dos votantes. Karl Rove foi então criticado por ter baseado a campanha de Bush na exploração desses temas. Mas, agora, temos os senadores Obama e Clinton a juntarem-se ao clube.
Duas lições podem ser citadas. À esquerda, seria melhor ouvir os americanos em vez de Michael Moore. À direita, seria melhor confiar menos em reaccionários antidemocratas como Platão e ouvir mais Edmund Burke ou Winston Churchill: “Trust the people, trust the people!”
jcespada@netcabo.pt
Talvez a grande notícia desta semana tenha vindo das reacções maciças contra as declarações do senador Obama acerca da vida nas pequenas cidades americanas
Talvez a grande notícia desta semana não tenha sido a vitória da senadora Clinton na Pensilvânia. Só o futuro dirá se estas foram boas notícias para os democratas ou se não terão sido melhores notícias para os republicanos. O senador McCain continua a somar pontos nas sondagens.
Talvez a grande notícia, como observou Daniel Henninger no ‘Wall Street Journal’, tenha vindo das reacções maciças contra as declarações do senador Obama acerca da vida nas pequenas cidades americanas. Ele tinha dito, a uma audiência de esquerda em S. Francisco, que a perda de empregos gerava amargura e levava os trabalhadores a virarem-se para a religião. Os protestos soaram por toda a América, começando pela senadora Clinton.
“A fé - explicou Hillary Clinton - é tudo o que dá sentido à vida e ao seu propósito como seres humanos... Nós queremos que a religião esteja na praça pública. Uma pessoa de fé tem o direito e até a obrigação de falar do ponto de vista da sua fé”.
Não menos surpreendente foi a reacção autocrítica do senador Obama: “A religião é um baluarte... Eu tenho defendido, não apenas nesta campanha, que os democratas têm de ligar a fé ao trabalho que fazemos... Há uma dimensão moral no aborto que nós, que somos a favor da escolha, não temos referido ou temos tentado ignorar. Penso que isso é um erro”.
Longe vão os tempos de 1992. Na convenção republicana, George Bush (pai), Dan Quayle e Pat Buchanan fizeram discursos inflamados sobre a decadência cultural da América. Apelaram aos valores culturais, à presença da religião na praça pública, à defesa da família e ao recuo da intervenção governamental. Os analistas correram a denunciar o fundamentalismo dos republicanos - e esse foi o mote que ecoou pela Europa (até ao dia de hoje e, seguramente, de amanhã).
Em 2004, após a retumbante reeleição de George W. Bush (filho), as sondagens à saída das urnas revelaram que os “valores morais” eram a preocupação central da maioria dos votantes. Karl Rove foi então criticado por ter baseado a campanha de Bush na exploração desses temas. Mas, agora, temos os senadores Obama e Clinton a juntarem-se ao clube.
Duas lições podem ser citadas. À esquerda, seria melhor ouvir os americanos em vez de Michael Moore. À direita, seria melhor confiar menos em reaccionários antidemocratas como Platão e ouvir mais Edmund Burke ou Winston Churchill: “Trust the people, trust the people!”
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